Juremir Machado da Silva

Crônicas e cronistas na Paralelo 30

Change Size Text
Crônicas e cronistas na Paralelo 30

Veio o tempo da pandemia e tudo parou. Eu tinha um lançamento para fazer em 26 de março de 2020 de meu livro “A memória e o guardião” (Civilização Brasileira). Foi cancelado. O resto, bem o resto todos sabemos: isolamento, hospitalizações, mortes, uma temporada no inferno. Nesses anos de tristeza, publiquei “Machado de Assis, o cronista das classes ociosas”, “Quase (toda) poesia” e “Memórias no esquecimento”, todos pela Sulina, sem alarde. Vieram as vacinas e nos salvamos. Estamos vivos e prontos para a luta. Neste sábado, 15 de julho, a partir das 15h, na Livraria Paralelo 30 (Vieira de Castro, 48), Alcides Stumpf, Gilberto Schwartsmann e eu falaremos de “crônicas, contos e outros narrativas”. De quebra, Alcides e eu autografaremos nossos novos livros, “O sapateiro de Bruxelas” (Sulina) e “Derrotados e triunfantes” (Almedina).

Dois médicos e um jornalista e cientista social. Faremos o diagnóstico de algo crônico: a crônica. E de nossas paixões pela literatura. Gilberto tem navegado por diversos mares da escrita. Alcides é um belo cronista. Fala do cotidiano com a leveza profunda que o ofício exige. De minha parte, tenho me permitido andar por onde me levam meus personagens. Desta vez, em contos e microcontos, persigo histórias que se concentram em poucas linhas. A vida cabe num dedal. Em tão pouco espaço, porém, o mundo fervilha. Mais, explode, viraliza.

E assim, depois da tempestade, estamos de volta aos lançamentos, numa bela livraria, que surgiu quando menos se esperava. Passado o tempo das grandes lojas, que se esfarelaram, bem-vindo o novo tempo das livrarias de bairro, bonitas, aconchegantes, atendidas por quem ama livros, projetadas para encontros e conversas ao pé do ouvido. Podemos até começar por uma pergunta clássica: quem conta um conto aumenta um ponto? E quem conta uma crônica? Ou um microconto?

*

Inspiração

Contava-se, naqueles dias de paixão e medo, como se faz quando se sabe pouco, mas se intui o essencial e sente-se necessidade de falar para expiar as culpas, que trazia na boca um gosto de mel e sabia disso, pois só falava com doçura e tinha sempre um enxame em torno de si. Contava-se também, para espanto de certos ouvintes e reprovação das carolas, que distribuía seus beijos generosamente pelo prazer que experimentava espalhando prazer e satisfazendo desejos, sem pedir nada em troca, aceitando, vez ou outra, uma prenda. Quando a criticavam, respondia rindo e balançando seus belos cabelos cacheados: “Não gasta”. Não era de ninguém e isso incomodava os proprietários do lugar. Morreria numa manhã de muito sol, apedrejada por “homens de bem”, a quem não quisera beijar por entender que suas bocas tinham gosto de fel e de mentira. Não suportava traições. Contava-se então que um certo Chico Buarque a beijara e, incapaz de esquecê-la, teria feito uma das suas mais belas canções, “Geni e o Zepelim”.

Contam tanto coisa.

Cantam muito mais.

Assim não se morre.

RELACIONADAS

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.