Juremir Machado da Silva

Do que eu me lembro

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Do que eu me lembro Foto: David Besh/Pexels


De quando parti em janeiro,
Era no tempo das grandes perguntas,
Tempo das mãos quentes de sonhos,
Das ruas com esquinas estranhas,
Dos lobos correndo os rebanhos.
Eu me lembro de nunca esquecer,
Nunca esquecer do primeiro sopro,
Do primeiro gozo, a vida lá fora,
Uma noite de quase setembro,
O corpo sozinho no espaço.
Eu me lembro do que era pouco,
Não de ter nascido em janeiro,
De ter crescido entre campo e cidade,
De não pertencer a qualquer lugar,
Estrangeiro em mim e no mundo,
Conversando com os pássaros,
Pedindo asilo aos bosques,
Orando para fantasmas arredios,
Regando o céu dos malditos,
Colhendo frutas ao pé do arco-íris.
Lembro sem razão alguma da lua,
Da lua naquele dia do avião,
A grama rangendo aos teus pés,
Daquela pressa de envelhecer,
De querer ser adulto tão cedo,
De sentir o inverno no outono,
Da luz da manhã rasgando campos,
de sol a solo, solidão à sombra,
Sul, sem ventos nem norte, só.
Tudo isso enquanto a alma ardia,
Queimava o pasto da longa ilusão.

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