Juremir Machado da Silva

Dominique Wolton em Porto Alegre

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Dominique Wolton em Porto Alegre O francês passeou por Porto Alegre | Foto: Ana Claudia Rodrigues

É sempre interessante ver como um estrangeiro percebe o cotidiano de Porto Alegre. O sociólogo Dominique Wolton já esteve oito vezes na capital gaúcha, sempre a convite do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUCRS. Uma vez para participar do Fórum Unimed Federação/RS. Desta vez, ele veio participar do começo das comemorações dos 30 anos do PPGCOM/PUCRS e lançar seu livro Comunicar é negociar (Sulina), que traduzi.

Em lugar da apresentar uma entrevista formal com Wolton, dedidi relatar aqui, com imagens e declarações, o final de semana que passamos juntos, sob a chuva, revirando Porto Alegre.

Wolton chegou a uma hora da manhã. A fila do táxi no Salgado Filho estava uma zona. Uber não aparecia. O jornalista André Haar, um dos primeiros a sair, me disse: “Já sei que estás esperando. Ajudei um francês a recolher a pasta, que ele derrubou no avião”. Dominique ficou impressionado com o tamanho do nosso novo aeroporto..

O domingo teve almoço no Barranco, com direito à caipirinha, e passeio no Feira do Livro, à tarde: “Não temos mais algo assim na França, como essa Feira do Livro. Ela tem um charme incrível, uma dimensão humana maravilhosa. É um convite à convivência, ao encontro, aos abraços, às boas conversas sobre literatura e cultura em geral”.

DW clica a Feira/Foto de Ana Claudia Rodrigues

Bom de livro, Dominique examinou obras em vários estandes.

Foto: Ana Claudia Rodrigues

No estande da Sulina, Dominique autografou exemplares do seu livro e conversou animadamente com passantes. Ficou feliz com a edição do seu livro: “Este livro faz parte de uma trilogia. O primeiro foi Informar não é comunicar“. O segundo é este, Comunicar é negociar. O terceiro, que estou preparando, terá por título Pensar a incomunicação“.

Foto: Ana Claudia Rodrigues

Para Dominique Wolton a comunicação é a grande questão do século: “Temos três situação: a comunicação, que é o ideal, na qual todo mundo se entende. A incomunicação, que para mim é a dificuldade de comunicação – todos discordam, mas discutem e negociam – e a acomunicação, que leva à guerra. Informar é fácil, pois é a mensagem. Comunicar é difícil, pois é a relação entre diferentes”. Fora da comunicação para ele só há o conflito, a guerra, o fracasso.

Na Feira do Livro, Wolton esteve nos autógrafos de Juliana Tonin, que conheceu em outras vindas a Porto Alegre.

Na sesão de autógrafos de Juliana Tonin | Foto de Ana Rodrigues

Bateu papo com o poeta Luiz Coronel, num encontro casual, em que se falou de poesia se tirou foto com “les Parapluies de Cherbourg”, título de um famoso filme francês de 1964, ganhador da Palma de Ouro em Cannes.

Com Luiz Coronel/ | Foto: Ana Claudia Rodrigues

Estivemos também no MARGS, que encantou o visitante. O centro histórico de Porto Alegre, especialmente a região do Alto da Bronze, arrancou elogios fartos do francês. A história do Castelinho do Alto da Bronze fez brilhar os olhos desse apaixonado pelo cotidiano, com seus mitos, lendas, narrativas e histórias de amor ou de ódio.

No Castelinho do Alto da Bronze | Foto: Ana Rodrigues

No Pontal do Estaleiro, admirou a grandeza do Guaíba, horrorizou com a feiura do prédio de vidro do novo shopping e gostou do ajardinamento feito à beira do rio como contrapartida pela concessão da área, mas duvidou que o investimento em benfeitorias para todos corresponda a uma mínima parte dos lucros que serão auferidos pelos agraciados com o espaço.

Uma visita ao Theatro São Pedro bem na hora do começo da peça de Vera Holtz o deixou entusiasmado com a beleza do prédio e com a lotação da sala. A fachada do Palácio Piratini também lhe chamou a atenção, mas menos do que praça da Matriz, que lhe pareceu grandiosa e acolhedora ao mesmo tempo, apesar da chuva que caía.

Foto: Ana Rodrigues

A carne da Parilla del Sur o tirou do sério. Adorou. Um pouco mais, aplaudia de pé.

Na segunda-feira, Dominique Wolton palestrou na Famecos, em evento sob a coordenação da professora Cleusa Scroferneker, onde foi recebido pela decana Rosângela Florczak e pelos pró-reitores de Pesquisa, Carlos Eduardo Lobo, e de graduação, Adriana Kampf. Tema: comunicar é negociar.

Palestra na Famecos | Foto: Giovane Toldo

O palestrante recebeu o troféu PPGCOM/PUCRS 30 anos.

Foto: Giovane Toldo

Wolton fez uma consistente defesa da relevância do humano diante da tecnologia. Defendeu que o grande desafio do século XXI é a alteridade, a construção do respeito pelo outro, condição fundamental da paz.

Foto: Giovane Toldo

Para ele, a escola, ou seja, a educação, tem papel central nessa geração de empatia.

Ao longo de nossas conversas, Dominique falou sobre os grandes temas da atualidade.

Ucrânia X Rússia: “Nada pode ser dito sem considerar o aspecto incontornável do conflito: a Ucrânia foi invadida pela Rússia. Negar ou minimizar esse elemento é pura ideologia. A esquerda mundial não pode se enganar: se há o imperialismo americano, há também o imperialismo russo, conduzida pela execrável figura do Putin”.

Israel x Hamas: “A solução não será militar, mas política. Em algum momento, a negociação terá de prevalecer. Só haverá paz com dois Estados e uma mesma capital”.

Política externa de Lula: “Aos olhos da Europa, Lula está errando o alvo”.

Ao embarcar para São Paulo, a fila da Gol não andava. Dominique queria brigar. Convenci-o de que funcionaria melhor com suavidade. Uma moça sorridente resolveu tudo. Embarque garantido. Citei-lhe Tom Jobim: “O Brasil não é para amadores”. Nem para visitantes, acrescentei. Ele adorou a tirada. E partiu feliz.

Foi palestrar na Universidade Metodista de São Paulo, aos cuidados de Roberto Chiachiri, e na Unicamp, recebido por Tom Dwyer. Comunicar é negociar, o que exige gosto pela palavras e por encontrar pessoas.

Eu queria estar em menos fotos. Na lógica afetiva de Dominique isso não é possível.

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