Imparcialidade, isenção, objetividade
Sou neopositivista agora. Acredito que o mundo existe independentemente de nossa vontade, opinião e subjetividade. Sei que me exponho ao ridículo com essa maneira de ver as coisas, especialmente pela originalidade. Alguém dirá que também pela inocência. Se não for pela burrice. Por exemplo, em jornalismo, entendo que é possível ser objetivo, imparcial, neutro e isento, esses termos que se juntam. Sei que isso é difícil e pouco praticado. Mas não impossível. Não estou entre os que defendem que tudo depende da opinião de cada um. A ideia de que cada um de nós olha o mundo de maneira diferente é uma ilusão de singularidade, um autoelogio pouco discutido. Se colocar dez pessoas para descrever um quadro, o mais provável é que tenhamos nove, ou dez, descrições praticamente iguais.
O que é objetividade? Uma coincidência descritiva forte. Quando vemos um ônibus se aproximar, não dizemos que é um trem. O que é isenção? Reconhecer o que o outro, com interesses opostos, também reconheceria. Se digo que um presidente não pode indicar o compadre para membro do STF, sou imparcial quando sustento a mesma posição para um governante que tenha a minha simpatia e para um que tenha a minha antipatia. A isenção tem a ver com coerência argumentativa.
A esquerda levou ao extremo a ideia de que não existe imparcialidade em jornalismo por saber que a mídia é propriedade, em geral, de pessoas de direita. Acreditou tanto nessa tese que passou a dizer que a imparcialidade é impossível ontologicamente, cognitivamente. Mas todo dia critica algum veículo por ser parcial. Está pedindo aquilo que não existe? Sim e não. Está querendo apenas que a mídia tenha sempre a sua opinião, a opinião daquele que a critica. Se for assim, vira isento. A terra não é plana. Isso não depende de minha opinião. Nem o fato de que vírus e bactérias são diferentes. O efeito da ação deles não depende de como os vejo.
Continua...