Juremir Machado da Silva

O humano típico da internet é Javier Milei

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O humano típico da internet é Javier Milei "O parâmetro das redes é Javier Milei. Só bomba quem presta serviço ou bate forte" | Foto: Mídia NINJA

Há quem confunda não bombar na internet com não saber usar. É um erro corrente. Se bombar dependesse de saber usar a maioria estaria se dando bem. As redes sociais especialmente só exigem uma coisa: pegada forte. O parâmetro das redes é Javier Milei. Só bomba quem presta serviço ou bate forte. Faz muito tempo que apresentei a fórmula do sucesso: descobrimento e diferencial em potência máxima. Milei criou diferença até na bizarra história de se aconselhar com seu cachorro morto. Não prometeu qualquer reforma. Só destruição: acabar com o banco central e com o peso argentino. Foi beneficiado, claro, pela arrogância peronista, que apresentou como candidato salvador um dos responsáveis pelo fracasso da economia. Governar é outra história, Milei. No virtual, só o pé na porta pode ser ouvido.

Entre as muitas categorias do novo mundo, esse universo paralelo da internet, podemos imaginar, em linguagem de rede social, algumas: o maníaco da novidade (só gosta do que altera alguma repetição, especialmente as que têm muitos admiradores). Bom exemplo disso é o torcedor neotático, vira-lata compulsivo, dataísta dogmático, que “performa” “entregando” seu amor ao novo. Não é o resultado que o apaixona, nem o desempenho, mas a quebra da rotina, mesmo a eficaz. Se pudesse, ele trocava, no segundo tempo, o centroavante pelo goleiro. Tem elevada autoestima. Acha o máximo por saber o mínimo. Para ele, toda crítica é uma confissão de anacronismo. Outro tipo desse real irreal é o deslumbrado tecnológico, aquele que não pega táxi por não ser moderno nem possibilitar o uso de tecnologia para ser parado na rua.

Para o vira-lata maníaco da novidade toda defesa do nacional ou do local é xenofobia. Para o deslumbrado tecnológico toda atração pelo natural é artificial. Pululam também nesse caldeirão de novos seres, que odeiam os isentões e exigem posição firme de todo mundo em tudo, outras figuras curiosas: o etarista condescendente, que só trata os velhinhos com benevolência, duvidando generosamente das suas capacidades de fazer o mínimo e antecipando sempre as falhas que não cometeriam para ajudá-los a não pagar mico, o que os obriga a pagar o mico de ter, por vezes, de se explicar, esclarecer, defender-se, mostrar que ainda não estão mortos nem congelados. No plano das performances existe o adorador da estética sapatênis para vídeos. Toda caseirice será considerada falha de caráter ou atraso mental.

Não se deve, porém, estigmatizar essa fauna. Eles não sabem o que pensam. Alguns acham que foi Luísa Sonza quem popularizou o álbum musical como obra completa. Outros acham que Caetano Veloso não sabe responder corretamente questões sobre suas próprias músicas. Alguns querem ver o técnico do Grêmio, Renato Gaúcho ou Renato Carioca, longe de Porto Alegre por ser antigo demais, não importando se faz mais do que o imaginado. O humano típico da internet, repito, é Javier Milei. Se duvidar, usa um tacape. Algorítmico. Assim caminha a humanidade para o fim do antropoceno. 

Uma mulher já trocou o namorado por uma inteligência artificial. 

Um vereador já pediu texto de lei ao GPT.

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