Juremir Machado da Silva

Internet e fator Riquelme

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Internet e fator Riquelme Foto: X / Twitter @lari_riquelme

Pierre Lévy foi talvez o primeiro a cravar: o virtual não se opõe ao real. Pensador sofisticado, Pierre opunha o virtual ao atual. Serei bem mais simples: o virtual (a internet) é o real. O real de porre, o real anabolizado, o real com depressão, o real turbinado de ilusões. Ou seja, o real realíssimo, nu e cru. Na internet, como no resto da vida, uns dão certo e outros, a maioria, não. Uns contam piadas e ficam ricos. Outros contam piadas equivalentes e permanecem de bolsos vazios.

Afinal, o que explica o sucesso de alguns e o fracasso da maioria? A resposta mais honesta seria: não sabemos. Uma hipótese razoável é: talento. Gente, porém, com talento de sobra não decola. Como na vida fora das redes sociais e dos dispositivos da internet. Talvez a explicação mais perto da verdade seja: loteria existencial. Tenho um amigo que não hesita, dispara: “Não sou boçal o suficiente para fazer sucesso na internet”. O maior preconceito na internet não é o racismo nem a homofobia, que correm soltos, mas o etarismo. Jovem da era da internet odeia velhos. O Facebook perde jovens por ter velhos demais.

Uma pista, segundo alguns observadores, para entender sucesso na internet passa por quatro eixos: mexer com games, sexo, violência e vaidade. Em sociedade que espicha a infância e adolescência, cujo limite já anda por volta dos 30 anos, e recorre à pedagogia dos games, a maneira mais direta de atingir o imaginário de alguém é “gameficar” a mensagem. Felipe Neto usou os games como trampolim para a sua carreira bem-sucedida. O sexo fala por si. Música sexualizada, aplicativos de pegação, tudo que tiver sexo na jogada tende a atrair multidões. A violência é outro território perfeito para o engajamento permanente. Por fim, mexer com a vaidade, que consiste em adular determinado grupo.

A internet não suporta o dissenso. Cada um na sua tribo. Um exemplo cada vez mais relevante de sucesso pela adulação de um grupo é o de Reinaldo Azevedo. Depois de adular a direita durante anos, deu uma guinada e agora se apresenta como porta-voz da esquerda. Um velho colunista conservador, atualmente meio esquecido, já dizia: escolhe um grupo e fala para ele, antecipa os seus desejos, justifica os seus erros, sustenta as suas ilusões, cola nele e não larga mais. A internet não aceita independência: todo mundo precisa escolher um lado. Prova disso é a explosão dos comentaristas de futebol fardados. Cada um defendendo o seu time com unhas, dentes e camiseta da loja oficial.

A internet é a vida: todo mundo corre atrás. Se precisar atropelar outros para chegar em primeiro lugar, faz parte do jogo. O bom da internet é que se apresenta como uma megassena da virada permanente. Cada um pode apostar todo dia. Mas falta sempre a sacada que abre portas. Exemplo velho que voltou a ser atual: a modelo argentina Larissa Riquelme foi “musa” da Copa do Mundo de futebol de 2010. Ela se instalou no meio da massa com um celular no decote. Seios porta-celular. Sucesso total. Os celulares ainda faziam sonhar. Os seios eram generosos. Depois se soube que tudo não passava de uma campanha publicitária. Agora, Larissa reaparece no OnlyFans. E uma cuia com distintivo do Grêmio.

O capital inicial ainda rende dividendos.

Em outra linguagem, a fórmula do sucesso é S = dn.

Sendo “s” sucesso e “d” diferença na maior potência possível.

A diferença pode ser entendida como o fator Riquelme.

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