Juremir Machado da Silva

Feliz 2024! Jornalismo é independência

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Feliz 2024! Jornalismo é independência Com Jean Plantu, cartunista francês conhecido pela sua independência,

Na ditadura, uma frase do humorista Millôr Fernandes ganhou destaque: “Jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”. Tinha razão. Jornalismo deve fazer oposição permanente a ditaduras, ditadores, autocratas, negacionistas (de democracia, ciência, racionalidade, vacinas), extremistas, terroristas e por aí vai.

Fora desse contexto fazer jornalismo não é ser porta-voz nem oposição.

Caldas Jr., no primeiro editorial do Correio do Povo, em 1º de outubro de 1895, num tempo de extremismos, de guerra civil, de jornais partidários, ele que teve o pai executado em Santa Catarina por florianistas, definiu como o seu jornal atuaria:

“Emancipado de convencionalismos retrógrados e de paixões inferiores, procurará esclarecer imparcialmente, apreciando com isenção de espírito os successos que se forem desenrolando e os actos dos governantes para censural-os quando reprováveis ou aplaudil-os quando meritórios”.

Jornalista independente elogia acertos, crítica erros, não briga com os fatos, pesa e pondera interpretações, sente-se livre para opinar conforme a sua consciência em qualquer situação. Nesse sentido, não tem time, partido ou lado.

Isso significa que mesmo torcendo por um time não terá a menor dificuldade em criticá-lo ou denunciá-lo se for o caso.

Quem diz que a isenção é impossível tem um objetivo ardiloso: transformar todo mundo em militante.

Quem aceitaria ser julgado por um juiz que se assumisse como parcial?

E assim chegamos ao fim de 2023: o jornalismo acertou e errou como sempre. O maior erro é pensar que o jornalismo agora é o que os chamados influenciadores praticam. Pode-se apresentar parte de telejornais com leveza, pode-se incluir entretenimento em quase tudo, mas jornalismo não é entretenimento nem caça-cliques.

A melhor definição de jornalismo, de uma parte do que o jornalismo faz, ainda é aquela atribuída a George Orwell:

“Jornalismo é publicar aquilo que alguém gostaria de esconder”.

Mas publicar depois de checar, de cruzar fontes, de verificar em profundidade.

Jornalismo não é missão nem caminho para a fama: é uma profissão.

Como profissão, tem regras, deontologia, compromissos.

O maior compromisso do jornalista é com a sua independência.

O que isso significa: ter liberdade para desagradar quem quer seja.

Feliz 2024!

Matinal fez a sua parte.

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