Juremir Machado da Silva

Um mês de governo Lula

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Um mês de governo Lula Foto: Ricardo Stuckert / Palácio do Planalto
Lula 3 chegou a trinta dias de governo. As análises sobre esse mês no comando não podem ser mais contraditórias. O jornal Estadão tem feito um editorial atrás do outro detonando falas do presidente, especialmente as suas críticas à independência do Banco Central. Essa é a verdadeira esperteza da raposa para iludir as galinhas. Todo poder emana do povo. Cada eleito deve ter a possibilidade de nomear imediatamente aquele que vai, como presidente do BC, ter poder sobre a definição da taxa de juros. Nada é tão técnico que possa se sobrepor à política, ainda mais quando diferentes correntes políticas divergem tecnicamente. Já a Folha de S.Paulo tem achado o governo muito à esquerda, ainda que nenhuma decisão até agora comprove essa tese.

Em trinta dias, Lula enfrentou uma tentativa de golpe, com a depredação das sedes dos três poderes, e uma crise humanitária, a tragédia dos ianomâmis. Deu conta do recado. Por enquanto, por incrível que pareça, os veículos da grande mídia mais tolerantes têm sido os da Rede Globo. Já andam dizendo até que a Globo faz o L. Ou, ao menos, a GloboNews. Está certa a Globo. É preciso dar tempo ao governo para acertar. Isso não significa tapar fatos com peneiras. Erros devem ser prontamente criticados. Só que grandes erros até agora não apareceram. O eleitorado de esquerda aguarda ansiosamente as reformas prometidas, entre elas a reforma da reforma trabalhista, que só serviu ao patronato. Depois do bolsonarismo, paciência é ouro.

O empresário Abílio Diniz, num ato nada falho, revelou a essência do capitalismo brasileiro. Ele tem medo de que uma reforma tributária faça o que dela se espera: tirar dos ricos para dar aos pobres. Num país marcado pela mais profunda desigualdade, essa é a obrigação moral. Lula tem razão: mais do que de responsabilidade fiscal, o Brasil precisa de responsabilidade social. O ideal é responsabilidade fiscal com responsabilidade social. Em 134 anos de república, só se viu a elite gritando por suposta responsabilidade fiscal. Para Washington Luís, por exemplo, lido nas entrelinhas, responsabilidade social era caso de polícia. Em geral, é motivo para golpe. Os ricos lembram a Rainha em Alice no país das maravilhas:

– Cortem os gastos – gritam freneticamente.

– Cortem impostos – emenda o coro.

Não interessa se isso corta o oxigênio dos mais pobres. Populismo é e nome que o elitismo dá às políticas que destoam dos seus interesses. O populismo muitas vezes é caminho certo para o fracasso. Outras vezes, porém, sinaliza o desespero de quem, acostumado a ganhar de goleada, não quer perder naco algum dos seus privilégios históricos. Aguardemos os famosos cem dias de governo para ver.

Continua...

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