A solidão que nos condena
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Alguém já disse que a solidão é pedra, embora também possa ser o infinito azul ou a tarde de sol. Se há os que sofrem nos dias chuvosos ou cinzas, há os que temem a força dos dias ensolarados, pois não é qualquer sol que nasce para todos. A solidão ronda os poetas como feitiço e maldição. Impossível não perceber o seu charme, as suas astúcias conquistadoras e até o seu poder alucinatório. A exemplo da poesia, pode levar à perdição. O poeta decide viver para a poesia. Fundamental, contudo, é viver da poesia. Uma coisa é saber viver sozinho, outra, bem outra, é ser devorado pela solidão permanente.
Falar de solidão, em tempo de interatividade tecnológica, é abrir portas que rangem ao menor empurrão. A solidão condena por ser condenada ou condenatória, vista como sinal de fracasso ou evidência de uma saída de cena. No entanto, para quem olha o cotidiano sem qualquer certeza passada ou futura, a solidão exprime um modo de estar no mundo. Walter Benjamin, na sua exposição de 1935 sobre as galerias de Paris, as famosas “passagens”, dizia que “a loja de departamento é a última passarela do flâneur” e que “com o flâneur a intelectualidade encaminha-se para o mercado”. Na verdade, a solidão é a última vitrine do passante, aquele para o qual o mercado já não tem utopias.
A rede social é a última passarela do flâneur.
Continua...