Juremir Machado da Silva

A solidão que nos condena

Change Size Text
A solidão que nos condena Foto: Tiago Medina
Na escala das formas de infelicidade que atingem o ser humano, a solidão certamente tem um lugar especial. Ela pode aparecer associada a outros infortúnios como a doença. A solidão maior é a morte, essa passagem sem companhia para o isolamento eterno. Solidão rima com tanta coisa, mas não com a vontade de se encantar no mundo. Por solidão, claro, não se entende a alegria de estar só por algum tempo. Por que falar de algo tão triste? Porque muitos de nós travam uma luta cotidiana com essa aliada do silêncio que asfixia. Conta a lenda que em algum lugar da Pérsia a condenação mais dura que se podia infligir a um desviante seria a solidão num espaço aberto e cheio de pássaros.

Alguém já disse que a solidão é pedra, embora também possa ser o infinito azul ou a tarde de sol. Se há os que sofrem nos dias chuvosos ou cinzas, há os que temem a força dos dias ensolarados, pois não é qualquer sol que nasce para todos. A solidão ronda os poetas como feitiço e maldição. Impossível não perceber o seu charme, as suas astúcias conquistadoras e até o seu poder alucinatório. A exemplo da poesia, pode levar à perdição. O poeta decide viver para a poesia. Fundamental, contudo, é viver da poesia. Uma coisa é saber viver sozinho, outra, bem outra, é ser devorado pela solidão permanente.

Falar de solidão, em tempo de interatividade tecnológica, é abrir portas que rangem ao menor empurrão. A solidão condena por ser condenada ou condenatória, vista como sinal de fracasso ou evidência de uma saída de cena. No entanto, para quem olha o cotidiano sem qualquer certeza passada ou futura, a solidão exprime um modo de estar no mundo. Walter Benjamin, na sua exposição de 1935 sobre as galerias de Paris, as famosas “passagens”, dizia que “a loja de departamento é a última passarela do flâneur” e que “com o flâneur a intelectualidade encaminha-se para o mercado”. Na verdade, a solidão é a última vitrine do passante, aquele para o qual o mercado já não tem utopias.

A rede social é a última passarela do flâneur.

Continua...

Quer ter acesso ao conteúdo exclusivo?

Assine o Premium

Você também pode experimentar nossas newsletters por 15 dias!

Experimente grátis as newsletters do Grupo Matinal!

RELACIONADAS

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.