Juremir Machado da Silva

Agitação jornalística pela Independência

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Agitação jornalística pela Independência Imagem: Reprodução BN

Cotegipe, depois de votar contra a abolição da escravatura, cumprimentou a Princesa Isabel: “A senhora acabou de redimir uma raça e perder o trono”. No primeiro número do jornal A Malagueta, Luís Antônio May lembrava a máxima do outro agitador, Duprat: “O barco que levar a família de Bragança deixará a independência no Brasil”. Não deu outra.

A emancipação brasileira foi em grande parte obra de jornais e de jornalistas. Machado de Assis escreveria em 1859: “Houve uma coisa que fez tremer as aristocracias, mais do que os movimentos populares; foi o jornal. Devia ser curioso vê-las quando um século despertou ao clarão deste fiat humano; era a cúpula de seu edifício que se desmoronava”.

Na agitação que levou à independência do Brasil tiveram papel relevante jornais como A Malagueta, de Luiz Augusto May; Revérbero Constitucional Fluminense, de Joaquim Gonçalves Ledo e Januário da Cunha Barbosa; O Espelho, de Manuel Ferreira de Araújo Guimarães; Correio do Rio de Janeiro, de João Soares Lisboa; Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco, de Cipriano Barata, e Sentinela da Liberdade á Beira do Mar da Praia Grande, de José Estevão Grondona. O Tamoyo, dos irmãos José Bonifácio e Antônio Carlos de Andrada, dirigido por um laranja, seria importante no momento da dissolução, por D. Pedro I, da Assembleia Constituinte, em 12 novembro de 1823. Jornal era arma de guerra.

A censura correu solta antes e depois da independência. Fazia-se jornal e jornalismo de casa, de palácio ou da cadeia. O exílio, muitas vezes, era a salvação da lavoura e da própria vida. Francisco Adolfo de Varnhagen comenta o caso singular:  “Diremos aqui somente que o redator no Correio do Rio de Janeiro, Soares Lisboa, havendo sido anistiado, e propondo-se a passar à Europa, se deixou ficar em Pernambuco, onde favoreceu a revolução, publicando um periódico intitulado Desengano Brasileiro, e aí veio a perder a vida pouco depois”. Era assim mesmo.

Não sei se não acabarei no exílio, duzentos anos depois. O desengano é muito brasileiro e atual. O império brasileiro poderia ter apelido: ditadura. D. Pedro I gostava de escrever em jornais, sob pseudônimo, mas não se constrangeria em mandar prender os jornalistas militantes que o criticassem com demasia persistência e razão: “Inaugurava-se deste modo, logo no primeiro mês do Império, um sistema inquisitorial, que nem sequer tinha estado em vigor no Rio de Janeiro durante os 13 anos do regime absoluto, que findara no dia 26 de fevereiro do ano precedente. E, como se ainda não fosse bastante, quando a imprensa da oposição estava pelo próprio José Bonifácio agrilhoada, tinha este a debilidade e falta de generosidade de insultar o seu adversário até com uma sátira em forma de vilancico de 38 estrofes de líricos quebrados, que fazia publicar nesse mesmo mês de novembro, começando por esta:

“Com ar altivo, com rosto ledo,


Já vi ao cume de alto penedo


Subir da lama um figurão,

Gritando ao mundo: – Constituição!”

Varnhagen resume a tragédia: “Dentro de poucos dias, estavam atulhadas de presos as fortalezas de Santa Cruz, ilhas das Cobras, Conceição e Laje”. Na sequência, haveria deportações: “Luís Pereira da Nóbrega foi logo encontrado, José Clemente Pereira só dias depois e (o cônego) Januário no dia 7 de dezembro, em que regressou de Minas. Recolhidos a Santa Cruz, foram deportados para o Havre, partindo todos três, no dia 20 de dezembro, no bergatim francês La Cécile. Ledo escondeu-se em uma fazenda, e a muito custo, favorecido pelo cônsul da Suécia, pôde escapar-se para Buenos Aires”. Era dura a vida de polemista.

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