Juremir Machado da Silva

D. Pedro, apenas um rapaz ousado?

Change Size Text
D. Pedro, apenas um rapaz ousado? Coração de Dom Pedro I foi trazido ao Brasil para as celebrações dos 200 anos da Independência (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Nada mais oportuno do que estar no lugar certo e na hora certa. Isso costuma fazer o homem certo. Ou a mulher certa. O homem certo, no lugar e na hora certos, foi D. Pedro. A mulher, D. Leopoldina. Francisco Adolfo Varnhagen, visconde de Porto Seguro, descreveu o filho de D. João VI com estas singelas palavras: “O príncipe D. Pedro, ao ficar de regente no Brasil, não contava ainda vinte e três anos. Dotado de talento natural, era pouco instruído, volúvel e um tanto vaidoso, mas bastante franco, generoso, liberal e ativo”. O cavalo, ou a mula, passou encilhado…

Ele montou.

Viveiros de Castro, no centenário do “Fico”, desceu a minúcias comprometedoras: “Bem-apessoado, cavalheiroso, ambicioso, ardente, estaria D. Pedro admiravelmente talhado para a grandiosa missão de fundador de um grande Império, se não fossem os gravíssimos defeitos da sua educação, necessariamente descurada num lar desavindo, entre um pai bonacheirão e uma mãe cujos costumes nada tinham de austeros”.

Laudelino Freire pesou e ponderou: “Fosse o que fosse Pedro I – trêfego, bulhento, ambicioso, instrumento e não agente, como lhe queriam chamar; um cego instinto de aparatosa glória e irrequieta desenvoltura, o amor da intriga, uma paixão do poder; trouxesse o cocar bicolor do liberalismo da Maçonaria, a da Inglaterra, de Canning (Oliveira Mar- tins, O Brasil); tivesse feito o conde dos Arcos seu favorito, para lhe aplaudir os desvarios da mocidade; fosse, enfim, um D. Miguel ao avesso, como dizia Oliveira Martins – o certo é que esse homem jogou na balança da separação, em favor do Brasil, todo o peso do seu prestígio pessoal e todo o valor de seus direitos a sucessão soberana”. Ponto para D. Pedro.

Varnhagen também entendeu o principal, o papel de D. Leopoldina: “A muita instrução e virtude de sua esposa a Arquiduquesa Leopoldina, haviam-lhe, entretanto, sido de proveito. Já então era pai de dois filhos: o Príncipe da Beira, D. João Carlos, que faleceu no ano seguinte, e D. Maria da Gloria, primeira princesa do Grão-Pará e mais tarde rainha de Portugal, cujo trono veio a ilustrar por sua austera virtude”.

Os imprevistos decidem mais do que os planos. Só os comentaristas de futebol pensam o contrário. Vernhagen: “O príncipe mostrava-se, entretanto, ansioso pela hora de poder regressar a Portugal. Ainda em 21 de setembro escrevia a seu pai que não levava a mal as ordens do Congresso para que as províncias se comunicassem diretamente com ele, havendo-se até prestado a transmiti-las, e acrescentava seguir limitando-se só à província do Rio de Janeiro, ‘até V. M. mandar que eu parta, a ter o grandíssimo gosto de lhe beijar a mão, de o abraçar e de gozar de uma companhia para mim e para todos tão agradável’. E, na mesma carta, acrescentava: – ‘Peço a V. M., por tudo quanto há de mais sagrado, me queira dispensar deste emprego, que seguramente me matará, pelos contínuos e horrorosos painéis que tenho, uns já à vista, e outros, muito piores, para o futuro, os quais eu tenho sempre diante dos olhos… Perdoará o meu modo de escrever; mas é a verdade que o faz, não sou eu’.”

A história seria escrita de outro modo.

*

Marcel Proust em Porto Alegre: Terra Mátria com Gilberto Schwartsmann, curador da exposição Proust, que abrirá em 30 de novembro, na Biblioteca Pública do Rio Grande do Sul.

RELACIONADAS

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.