Juremir Machado da Silva

Envelhecer é para as fortes

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Envelhecer é para as fortes Reprodução Editora Record

Enquanto FHC declara voto em Lula, sendo fiel à sua biografia, o PSDB do RS namora Bolsonaro, sendo fiel à sua ideologia. Mas Eduardo Leite, apesar da falta de pressa, ainda pode salvar o seu futuro político de social-democrata.

Mas falemos de livros. Afinal, como diria William Bonner, “vamos respirar, vamos respirar”.

Helena Celestino é jornalista. Foi correspondente em Paris e Nova York. Colabora com Valor Econômico e O Globo. Com um pé no jornalismo e outro na universidade, cursou antropologia, na Sorbonne. Em “Envelhecer é para as fortes” (editora Record), ela resgata a história das “pioneiras que resistiram à ditadura, lutaram por um novo jeito de ser mulher e agora reinventam a velhice”. O papo é reto: “Aos 66 anos, me vi obrigada a reinventar a vida. Nada mais banal. Um novo CEO assumiu e cortou quase metade da redação à qual eu estivera ligada por mais de duas décadas. A escolha dos demitidos, na maioria dos casos, foi pela coluna dos salários”. Ela estava fora. Go out.

CEO é uma sigla que dá arrepios. Helena resolveu contar a história de mulheres da sua geração, “cujas vidas se cruzaram nos anos 1970 em Paris”, onde criaram o Círculo de Mulheres Brasileiras. Algumas voltaram ao Brasil e, em 2018, juntaram-se num sonoro “ele não”. A luta continuava. Palavras do “feminismo do século XXI” coloriam as novas batalhas: “Boi, boi, boi/Boi da cara preta/Pega o Bolsonaro que tem medo de boceta” ou “Eta, eta, eta/Congresso moralista que tem medo de boceta”. Novo tempos, velhos sonhos. E Helena fala das amigas dos tempos de Paris: Glória Ferreira, Vera Valdez, Lena Tejo, Eliana Aguiar, Lena Giacoini, a gaúcha América Ungaretti, Betânia e Vera Sílvia, a “musa da geração rebelde”, que morreu cedo, aos 59 anos de idade, de enfarto. Elas enfrentaram ditadura, exilaram-se, amaram, casaram-se, separaram-se, houve quem se tornasse guerrilheira, fizeram tudo que não estava no “figurino”.

Quiseram muito e fizeram muito. Continuam querendo e fazendo. Um dos capítulos do livro tem por título “vivendo o prazer”: “Sessenta anos depois, essa mesma geração que viveu a revolução sexual, ao chegar à menopausa, tem um arsenal de hidratantes e lubrificantes para contrabalançar o ressecamento da vagina e continuar fazendo sexo até quando o desejo mandar”. Eliana diz: “Hoje, quando penso em sexo, penso mais num vibrador do que num namorado. Claro, se aparecer um setentão energético, vai ser ótimo, mas não tenho visto nenhum por aí. Vibrador é bom, falando do ponto de vista estritamente sexual. Numa relação amorosa, existem muitas outras questões envolvidas. Nunca fiz reposição hormonal, passou aquele furor. Vibrador não é mau”.

As pioneiras continuam na linha de frente. Não desistiram de um mundo melhor, lutam agora contra o novo moralismo e o velho conservadorismo das elites tropicais. Trazem na bagagem muita memória, tantas paixões, toneladas de ousadia, emoções que não se apagam. Elas foram moças de minissaia, da revolução da pílula anticoncepcional, do rock, da geração hippie, paz e amor, liberação sexual, sexo, drogas e rock’n’roll. Elas são as septuagenárias cujos “sonhos não envelheceram”, que combatem “por um país mais livre e solidário, com menos desigualdade e mais diversidade”. O Círculo hoje se chama Peitamos. Diante delas, o bolsonarismo treme de medo e de atraso.

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