Juremir Machado da Silva

Javier Milei em ação

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Javier Milei em ação “Milei é uma contradição de faixa” | Foto: Telám

O presidente argentino Javier Milei é uma contradição com faixa no peito. Por não acreditar no Estado, decidiu ser Chefe de Estado. Assim, no seu cálculo estratégico, posiciona-se para melhor atacar o seu inimigo. Milei não quer o Estado mínimo. Busca boicotar o Estado. A sua lei é a mais simples de todas: produzir uma terra sem lei. Para ele, deve prevalecer a lei do mais forte, desde que o mais forte não seja o coletivo organizado, inclusive ou principalmente como Estado. Milei chamou o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, de “comunista assassino”. Todo aquele que vê alguma utilidade no Estado é comunista.

Milei não faltou à aula. Ele sabe a diferença entre comunistas, socialistas, social-democratas e outros. Se aposta na confusão é por encontrar nela uma razão de ser: desinformar. Uma das características internacionais do populista de extrema direita é falta de educação, a grosseria, algo que Jair Bolsonaro praticou com distinção nos seus quatro anos de desatino na presidência do Brasil. Esse jeito estúpido de ser cria engajamento. Reforça a imagem de valentão do indivíduo no faroeste das redes sociais e da política em tempos de corrosão da democracia. Javier Milei é cavalo de troia que os próprias argentinos infiltraram no seu cotidiano. Não digo qualquer novidade. Repiso.

Um dos focos de Milei é a desmontagem de qualquer legislação trabalhista. Sem dúvida, o custo do trabalho fica muito mais barato se nele não estiver embutida qualquer proteção social. Era assim no século XIX. É assim na época da uberização do mundo. Vende-se uma ideia de liberdade capaz de produzir servidão voluntária. Na hora do aperto, quando chega, por exemplo, a doença, o Estado precisa voltar pela janela para amparar aquele que acreditou nas virtudes da precarização com o nome de autonomia e de redução de custos. Milei é uma praga. A Argentina voltou a ser um grande laboratório do neoliberalismo. E também de uma democracia iliberal. Outro paradoxo do anarcoliberal é a sua inclinação para o autoritarismo escancarado.

Liberais da segunda metade do século XX apoiaram ditaduras como a de Augusto Pinochet no Chile. O Estado devia ser mínimo em economia e máximo em comportamento. Não devia regular negócios, mas tinha por obrigação fixar quem podia ir para a cama com quem. Mínimo em economia, máximo na capacidade de prender, torturar e matar opositores renhidos. Nesses quesitos todos, o Chile de Pinochet tirou nota dez com estrelinhas e foi tolerado. A conta desse ultraliberalismo ditatorial ficou para famílias devastadas e para idosos na hora de receber o que lhes tocou das aposentadorias privadas. Como o que não tem remédio, remediado não está, restou para alguns o suicídio.

O desbocado Javier Milei é um Paulo Guedes com votos. Tem muitas teorias e dogmas na cabeça. Encontrou a ocasião para testá-los. Extremos não gostam da democracia. Isso vale para comunistas de verdade e para ultraliberais. A democracia pressupõe pesos e contrapesos. Esse jogo atrapalha a pressa de quem só quer tirar do caminho o que vê como obstáculos aos seus desejos de acumulação. Ouviremos muito falar dos estragos de Milei. Chamar o presidente de um país vizinho de “comunista assassino” é só uma amostra do que virá.

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