Juremir Machado da Silva

Mercado de escravos

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Mercado de escravos O Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, foi o principal porto de entrada de escravos nas Américas (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Em 1823, no Rio de Janeiro, o mercado de escravos era como se verá abaixo. Em 2023, dá-se por terceirização.

Diário de Maria Graham

1º de maio

Vi hoje o Vai Longo [Valongo]. E o mercado de escravos do Rio. Quase todas as casas desta longuíssima rua são um depósito de escravos. Passando pelas suas portas à noite, vi na maior parte delas bancos colocados rente às paredes, nos quais filas de jovens criaturas estavam sentadas, com as cabeças raspadas, os corpos macilentos, tendo na pele sinais de sarna recente. Em alguns lugares as pobres criaturas jazem sobre tapetes, evidentemente muito fracos para sentarem-se.

Em uma casa as portas estavam fechadas até meia altura e um grupo de rapazes e moças, que não pareciam ter mais de quinze anos, e alguns muito menos, debruçavam-se sobre a meia porta e olhavam a rua com faces curiosas. Eram evidentemente negros bem novos. Ao aproximar-me deles, parece que alguma coisa a meu respeito lhes atraiu a atenção; tocavam-se uns nos outros para certificarem-se de que todos me estavam vendo e depois conversaram no dialeto africano próprio com muita vivacidade. Dirigi-me a eles e olhei-os de perto, e ainda que mais disposta a chorar. Fiz um esforço para lhes sorrir com alegria e beijei minha mão para eles; com tudo isso pareceram eles encantados; pularam e dançaram, como que retribuindo as minhas cortesias. Pobres criaturas! Mesmo que pudesse eu não diminuiria seus momentos de alegria, despertando neles a compreensão das coisas tristes da escravidão; mas, apelaria para os seus senhores, para os que compram e para os que vendem, e lhes imploraria que pensassem nos males que traz a escravidão, não somente para os negros, mas para eles próprios e, não somente para eles, mas para suas famílias e para suas descendências.

Afinal de contas, os escravos são os piores e mais caros empregados, e uma prova disso é o seguinte: – O pequeno terreno que cada um é autorizado a cultivar para seu próprio uso em muitas fazendas geralmente produz, pelo menos, o dobro em proporção do que a terra do senhor, apesar das poucas horas de trabalho que lhe são dedicadas. Desde então procurei, sem êxito, obter um quadro correto do número de escravos importados em todo o Brasil. Temo realmente que será difícil para mim consegui-lo, em vista das distâncias de alguns portes; mas não descansarei até que obtenha, ao menos, um quadro do número das entradas nas alfândegas daqui durante os últimos dois anos. O número de navios da África que vejo constantemente entrando no porto, e as multidões que se atropelam nas casas de escravos nesta rua, convencem-me de que a importação deve ser muito grande. A proporção ordinária das mortes na travessia é, estou informada, de um em cada cinco.

Mario Quintana e “La Recherche du Temps Perdu”

Como é o processo de tradução? E como Mario Quintana o fazia, ao trazer pela primeira vez para a língua portuguesa a conceituada obra de Marcel Proust, La Recherche du temps perdu, através da Editora Globo?

Nesta sexta-feira, às 16 horas, na Biblioteca Pública do Estado, com entrada franca, haverá uma oficina sobre o tema, seguida de uma conversa com Alexandre Veiga, responsável pelo núcleo de memória da Casa de Cultura Mario Quintana.

A programação faz parte do projeto educativo da mostra Caminhos de Proust, em cartaz na Biblioteca Pública até 18 de março. As inscrições podem ser feitas no local, antes do início da atividade.

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