Juremir Machado da Silva

Os pastores do capitão

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Os pastores do capitão Ex-ministro de Bolsonaro, Milton Ribeiro foi preso nesta quarta-feira (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)

Parece ter caído a casa de vez. Jair Bolsonaro não entregou nada do que prometeu, salvo armas. Na campanha eleitoral de 2018, o capitão se apresentou como um novo liberal, um neoliberal de última hora e convicção de primeira. Paulo Guedes, o velho liberal formado em Chicago, o Old Chicago Boy, com estágio no Chile de Pinochet, era o seu Posto Ipiranga, a garantia do que o liberalismo seria a marca do governo. Está faltando combustível nesse posto que nunca funcionou direito. O outro pilar do bolsonarismo era “um governo sem corrupção”.

A prisão do pastor Milton Ribeiro, que ocupou o Ministério da Educação com sua mediocridade e seus preconceitos constrangedores, acaba de vez com essa narrativa sempre repetida pelo capitão. Resumo na imprensa do tiro na nuca do governo Bolsonaro: “O mandado de prisão preventiva contra Ribeiro foi expedido por ordem do juiz Renato Borelli, da 15ª Vara Federal Criminal do Distrito Federal, e cita supostos crimes de corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência”. Pastores cuidariam da liberação de verbas do MEC a preços nada módicos, até barras de ouro.

No governo supostamente sem corrupção tem um ex-ministro da Educação vivendo nos Estados Unidos e aconselhado a ficar por lá para não correr o risco de ser preso no Brasil. Em abril de 2021 era possível ler em jornal sobre outro ministro: “Ricardo Salles pediu demissão após saber que seria preso”. O jornal Estadão resumia: “Alvo de inquérito que investiga um esquema ilegal de retirada e venda de madeira, Ricardo Salles decidiu deixar o Ministério do Meio Ambiente quando soube, na terça-feira passada, que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes iria determinar sua prisão”.

Por outro lado, no reino das contradições obscenas, apoiadores de Bolsonaro atacavam ferozmente o governo Dilma Rousseff por manter os preços dos combustíveis controlados, prejudicando a Petrobras e seus acionistas. No poder, Bolsonaro “demite” um presidente da Petrobras atrás do outro por não conseguir que eles controlem o preço dos combustíveis. Raras vezes se viu um governo tão perdido e atolado em suas contradições. Bolsonaro só não sofreu impeachment por ter cedido parte substancial do governo ao Centrão, que, podendo administrar cargos e verbas, blinda o presidente contra uma centena de pedidos para que o seu governo desastroso e desastrado seja cortado pela raiz.

Tudo no governo Bolsonaro é duplo: tem orçamento paralelo, gabinete paralelo, governo paralelo (o do Centrão), realidade paralela, vida paralela, moral paralela, agenda paralela, mídia com narrativas paralelas, fatos paralelos. Bolsonaro foi eleito com aval do mercado, essa entidade paralela que, na América Latina, é capaz de apoiar golpe de Estado, ditadura, candidato obscurantista, qualquer coisa desde que possa ganhar dinheiro sem obstáculos. Em março de 2022, o imbrochável presidente da República era categórico: “Boto a cara no fogo pelo Milton”. É hora de chamar os bombeiros. Agora Bolsonaro tenta jogar água na fogueira que ajudou a acender: “Ele responde pelos atos dele”.

Onde há fumaça há fogo. E cinzas.

E, pelo jeito, lápide: aqui jaz o governo Bolsonaro.

Haverá, porém, colunista de jornal para perguntar com ar de espanto: “O que o presidente tem a ver com isso?” Teve jornalista que não conseguiu entender que responsabilidade pode ter o presidente da República sobre os tristes acontecimentos do Vale do Javari.

Como é bonita a inocência!

Ah, não custa lembrar que, segundo o agora presidiário Milton Ribeiro, os pastores estavam lá a pedido de Jair Bolsonaro.

Resta tentar mudar novamente a direção da Polícia Federal.

A coisa está tão feia que o imbrochável amoleceu: “Tô é brocha mesmo. Apanhar 24 horas por dia não é fácil, não…”

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