Juremir Machado da Silva

Primeiro debate dos presidenciáveis

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Primeiro debate dos presidenciáveis Imagem: Reprodução / Band
Lula foi mal no debate da Band/Uol/Cultura. Jair Bolsonaro foi ainda pior. Ciro Gomes teve altos e baixos. Luís Felipe D’Ávila (Novo) soou o que é: monocórdico, velho, dogmático, privatiza tudo que melhora. Soraya Thronicke (União Brasil) marcou pontos quando chamou Bolsonaro de “tchutchuca” com homens e tigrão com mulheres, defendendo a jornalista Vera Magalhães, atacada pelo capitão. Simone Tebet foi muito bem e ganhou o confronto: firme, incisiva e clara, enfrentou Bolsonaro em campo aberto, disse não ter medo dele, denunciou corrupção no seu governo e o esmurrou em relação à sua misoginia. Além disso, atacou Lula no seu ponto frágil: mensalão e petróleo.

Em debates, dois participantes costumam ser os mais atacados: aquele que estiver liderando as pesquisas; e aquele que busca reeleição, se estiver em segundo lugar, tendo sido um governante controvertido. Lula e Bolsonaro apanharam de todos os lados. Já na primeira pergunta, Bolsonaro questionou Lula sobre corrupção. O ex-presidente titubeou e não respondeu diretamente. O capitão botou Lula nas cordas, chamando-o frontalmente de corrupto. A reação do petista foi lenta e só veio plenamente no final, num direito de resposta, como se fizesse um gol graças à intervenção do VAR. Aliás, o “VAR” foi mal: concedeu um direito de resposta a Bolsonaro e outro a Lula. Negou outros que deveriam ter sido concedidos. Os apresentadores esconderam-se quando Bolsonaro insultou a jornalista Vera Magalhães, que falou dos erros do presidente na condução da guerra contra a covid, especialmente no desestímulo às vacinas. Foram Simone e Soraya que compraram a briga. Bolsonaro beijou a lona na questão das mulheres.

Para a bolha de Jair Bolsonaro ele foi muito bem, mas não para a equipe de campanha. Chamou Lula de presidiário duas vezes, acusou-o de corrupção, falou em “mimimi” e “vitimismo” quando confrontado com certas questões como machismo e misoginia, rosnou, falou grosso e ofendeu Vera Magalhães chamando-a de “vergonha do jornalismo brasileiro”. Bolsonaro foi uma vergonha em termos de compostura no debate. Ciro Gomes, no desespero de um terceiro lugar nas pesquisas, disparou para todos os lados. Falou bem como sempre, fazendo propostas e apresentando falhas reais dos adversários, mas talvez tenha ficado isolado. Lula ironizou a ida de Ciro para Paris no segundo turno da última eleição, quando Bolsonaro se elegeu. Ciro contra-atacou dizendo que Bolsonaro é o resultado dos erros do PT. Ficou um zero a zero.

Lula, que olha “Pantanal”, na Rede Globo, pareceu o protagonista, o jovem Joventino, que, na primeira parte da novela, é humilhado pelo peão Alcides e não reage por não querer briga nem baixaria. A plateia viu Joventino com medo e ele foi objeto de zombaria. Numa segunda parte da novela, em nova confrontação, Jove reage e põe Alcides para dormir com facilidade. Será que Lula fará o mesmo em outro debate? A estratégia pareceu, neste primeiro, de perfil baixo. O efeito imediato está nos jornais: Lula não respondeu sobre corrupção. Fugiu do tema. No final, contudo, no direito de resposta, cutucou: “Estou muito mais limpo do que ele ou qualquer outro parente dele. Porque fui julgado, considerado inocente pela Suprema Corte, pela primeira instância da ONU, pela segunda instância plena da ONU”.

Bolsonaro foi poupado de ataques em relação às acusações recorrentes a seus familiares. Ao final deste primeiro debate, os defensores da chamada terceira via ganharam oxigênio. Se fosse futebol, que Lula tanto gosta e usa nas suas metáforas, o petista teria de subir a sua linha de marcação para tentar sufocar o oponente. Em geral, vai bem quem tem menos a perder. Ou, dirão outros, a esconder. Pouco se falou no debate sobre negacionismo, termo que tem sido colado a Bolsonaro e seu governo dia sim e dia não. Por quê?

Ciro atacou o machismo de Bolsonaro por ter dito um dia que a sua filha era fruto de uma “fraquejada” sua. Bolsonaro rebateu lembrando que Ciro certa vez havia dito que a função da sua mulher na campanha era dormir com ele. Tomou um troco redondo. Ciro disse ter errado por ser fruto de uma cultura machista. E emendou: “Estou sempre aprendendo. Mas você nunca aprende nada”. O capitão fraquejou.

Outro problema do debate foi a mescla de entrevista, com perguntas dos jornalistas, e enfrentamento direto entre candidatos. Lula e Bolsonaro só tiveram um cruzamento direto. A hora é de ver candidato contra candidato, com a menor interrupção possível. Cara a cara. Não apenas lado a lado. A misoginia derrubou Jair Bolsonaro. Durante muito tempo ele ouvirá Simone Tebet perguntando: “Por que tanta raiva das mulheres?” Ou Ciro Gomes dizendo com seu estilo contundente, “uma pessoa sem coração, que corrompeu todas as suas mulheres e os filhos”. Quando foi encurralado por Vera Magalhães, Bolsonaro reagiu como machão de almanaque: “Acho que você dorme pensando em mim”. A essência de Bolsonaro apareceu inteira na agressão que fez a Tebet quando esta lhe cobrou respeito com Vera: “Eu não pedi a sua opinião”. Um coice. Será que o capitão vai a outro debate?

Continua

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