Juremir Machado da Silva

Vitor Ramil em Palomas

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Vitor Ramil em Palomas

A idade me trouxe um mínimo de sabedoria. Já era tempo. Como se diz, antes tarde do que nunca. Enfim, alguma coisa capaz de aliviar os inconvenientes de avançar no tempo, como certo andar mais lento, ter moscas volantes nos olhos e algumas dores inexplicáveis. Sem contar essa saudade da infância que se fantasia de vontade de ir a lugares que só existem, de fato, na memória afetiva. Gosto cada vez mais da música de Vítor Ramil. Ele encarna como poucos a sofisticação e o telúrico. A sua música tem algo de hipermoderna e cheiro de terra molhada nos pagos. Ramil me mandou pelo Luís Augusto Fischer a foto que encima este texto, tendo por legenda o título de meu livro “cai a noite sobre Palomas”. Por legenda digo eu, que só sei me expressar com metáforas de jornalista.

Que terá Ramil ido fazer em Santana do Livramento? Ou terá sido um passeio à Banda Oriental? “Ramilonga” é um disco que, em Palomas, pode me fazer pensar em Porto Alegre. Já em Porto Alegre me faz sentir falta de Palomas. Como não se sentir tocado por versos como estes: “Eu indo ao pampa, o pampa indo em mim”? Há certos dias que eu penso em Palomas e sinto o Rio Grande do Sul inteiro me tocar. Então eu ouço Vitor Ramil e me deixo soprar por ventos suaves ou mesmo pelo forte Minuano. Sou levado de um lado para outro, mas sei que estou sempre do “lado de cá”, que é um lado como o outro, embora seja, creio eu, por falta de maiores conhecimentos, o lado do coração, esse estranho que bate dentro de nós sem qualquer compromisso com a eternidade.

Olho a foto do Cerro de Palomas feita por Vitor Ramil ao cair da noite e me digo: como esse pequeno lugar pode ser imenso! É possível que essas linhas pareçam estranhas a um leitor urbano. Serei, talvez, acusado de nostalgia injustificada, caso alguma nostalgia possa ser aceita por quem não tem a dimensão imaginária fulgurante do passado. Lá me vou pela vida lembrando do “velho torrão pampiano”. Artista é aquele que agarra no ar os sentimentos que andam por aí em busca dos seus chapéus. Vez ou outra, a saudade me aperta tanto o peito que dele saltam alguns versos.

Sou gaudério sem a pilcha
Sou gaúcho sem o mate,
Por onde eu ando, porém,
Sempre uma lembrança me vem
Desses pagos onde um vento rebate,
O Minuano da minha infância.
Então eu passeio de estância em estância,
Mesmo que seja em Paris,
Nada me faz mais feliz
Do que uma milonga ao cair da noite
Uma noite como só tem em Palomas.

Obrigado, Vítor.

No primeiro sábado de agosto espero ouvir “Ramilonga” em Palomas, em visita à minha mãe:

“Eu indo ao pampa”.

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