Juremir Machado da Silva

Comunicar é negociar

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Comunicar é negociar Foto: Arquivo Pessoal
Dominique Wolton é um dos sociólogos mais importantes do mundo na atualidade. “Comunicar é negociar”, seu mais recente livro, acaba de sair no Brasil (Sulina), com tradução feita por mim. O leitor do Matinal recebe agora um fragmento do livro para degustação, uma cortesia da editora. * “Um dos desafios fundamentais do século XXI? Fazer entrar, enfim, a informação e a comunicação no panteão dos grandes conceitos e valores do século. De resto, os dois são indispensáveis para pensar um mundo aberto e de difícil compreensão. Apesar disso, esses dois conceitos são, com frequência, desvalorizados e provocam desconfiança. Informação é, contudo, símbolo de liberdade; comunicação, símbolo de reconhecimento do outro e da necessidade de negociação. Esses dois conceitos encontram-se, aliás, no centro da paz e da guerra num mundo “aberto e transparente”, onde é preciso, ao mesmo tempo, preservar as identidades, a diversidade cultural e a referência ao universal. Eles são essenciais para se evitar a guerra e favorecer a convivência. É este trabalho teórico que venho realizando há mais de trinta anos, refletindo sobre as múltiplas situações pessoais, culturais, sociais, políticas e diplomáticas feitas de comunicação e não comunicação. Isso para ajudar a preencher o vazio teórico sobre o status da informação e da comunicação no campo do conhecimento. Esses dois conceitos são essenciais por três razões. Epistemológica: porque são fundamentais para qualquer teoria do conhecimento e para a interdisciplinaridade. Eles também são centrais para as liberdades individuais, políticas e culturais. Finalmente, são necessários, na era da globalização, pela questão das identidades e da diversidade cultural. Este trabalho é feito também na revista Hermès (CNRS Éditions), que criei em 1988, com 88 edições até agora, cujo subtítulo, “comunicação, cognição, política”, ilustra bem essas perspectivas teóricas. Alguns textos deste livro foram publicados lá em versão original. Produção de conhecimento, comparações, história e erudição são essenciais para tentar pensar a revolução da informação e da comunicação que está impactando nossas análises e experiências. O risco hoje é a perda massiva de confiança na informação e na comunicação, no momento em que, paradoxalmente, ambas nunca foram tão essenciais. As crescentes dificuldades da comunicação humana explicam em grande parte o sucesso da comunicação tecnológica, que muitas vezes é mais eficiente, a ponto de muitos crerem que existe uma possível continuidade entre essas duas comunicações. A realidade humana e social, contudo, permanece muito mais complexa do que o desempenho das tecnologias. Em suma, estamos diante de uma crescente falta de comunicação e diante da ilusão de uma comunicação tecnológica bem-sucedida. Triunfo da ideologia tecnicista contra a desumanização; confusão entre interatividade tecnológica e intercompreensão humana. Desafio do século 21? Gerenciar a relação entre alteridade, negociação e convivência. Este século descobre com dor a dimensão da incomunicação, a necessidade da negociação e, finalmente, a dificuldade da convivência, três elementos que estão no coração da comunicação. Em poucas palavras, meu objetivo é defender uma concepção política e não tecnológica da comunicação e sair o mais rápido possível do ponto cego do pensamento teórico e político que desvaloriza […]

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