Juremir Machado da Silva

Lutzenberger Universal na Casa da Memória

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Lutzenberger Universal na Casa da Memória Exposição Lutzenberger Universal/Fotos de Nilton Santolin

Na terça-feira, 2 de abril, na Casa da Memória Unimed Federação/RS (Santa Teresinha, 263), sob o comando de Nilson May e Alcides Stumpf, aconteceu a abertura da exposição Lutzenberger Universal, com curadoria de José Francisco Alves. A inauguração contou com a presença de artistas, médicos, jornalistas e outros convidados, entre os quais familiares do pintor homenageado. O catálogo da mostra revela plasticamente a importância de Lutzenberger, engenheiro arquiteto alemão que migrou para Rio Grande do Sul em 1920. Nascido numa sexta-feira, 13 de janeiro de 1882, o migrante deu sorte no Brasil e para o Brasil com o seu talento e a sua competência.

Lutzenberger pintou cenas do cotidiano de Porto Alegre e personagens do cenário histórico do Rio Grande do Sul com delicadeza e autenticidade. É o caso da aquarela “Vista de Porto Alegre a partir dos promontórios do leste” e do óleo sobre madeira “Lanceiro farroupilha”. Sente-se a vida ali, toda em cores suaves, exalando uma nostalgia capaz de balançar o observador, mesmo, talvez, daquele que não tem qualquer ligação com as paisagens do Rio Grande do Sul. Estão ali a campanha, o homem a cavalo e o seu cachorro. A Revolução Farroupilha esteve entre os assuntos da predileção do imigrante que passou de Joseph a José, de alemão a gaúcho, de engenheiro-arquiteto a pintor, de deslocado a enraizado na sua nova pátria emoldurada.

Vista de Porto Alegre a partir dos promontórios do leste/foto de Nilton Santolin

     

A exposição da Casa da Memória, com cem obras de Lutzenberger, fica aberta ao público até 3 de julho de 2024. O curador José Francisco Alves explica que, ao contrário do imaginado por alguns, a aquarela é uma das “técnicas mais difíceis por não admitir erros em sua execução e necessitar de suporte (papel) de qualidade”. Segundo ele, “Lutzenberger já a desenvolvia na faculdade, às vezes acrescida de nanquim e grafite; por outras, com pinceladas de têmpera ou guache”. Em Munique ele teria “aprimorado a técnica de modo a dominá-la em sua plenitude”, produzindo obras “dignas de um mestre da linguagem, em cenas urbanas e de paisagens rurais”. Adeptos do espontaneísmo na fruição artística não irão se decepcionar. O conjunto exposto mexe com sentimentos universais vinculados ao dia a dia.

Uma aquarela sugestiva é “Homem solitário e pensativo contempla a paisagem de uma nova terra”. Poderia ser a expressão mesma do homem exilado, expatriado, em busca de uma nova identidade, o ser humano em sua dimensão sensível. Por que não o próprio artista em sua vida no sul do Novo Mundo? Há situações menos melancólicas e ricas em complexidade histórica e psicológica como a da aquarela intitulada “Farroupilha foge dos imperiais com o companheiro ferido”. Fuga e lealdade, companheirismo e retirada, a vida e suas circunstâncias.

A visita à exposição Lutzenberger Universal permitirá ver o local como parte de uma realidade sem fronteiras, encontro entre mundos unidos pelo mesmo cimento existencial: o cotidiano. Talvez o maior cimento de todos, o mais universal e consistente, aquela que se exprime até mesmo no silêncio, seja a arte, como a de Lutzenberger.

José Francisco Alves e Nilson May
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