Juremir Machado da Silva

Dia da Consciência Negra: Oliveira Silveira é Doutor Honoris Causa da UFRGS

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Dia da Consciência Negra: Oliveira Silveira é Doutor Honoris Causa da UFRGS Oliveira Silveira | Foto: Tânia Meinerz

Hoje é dia de Zumbi dos Palmares. Dia nacional da Consciência Negra. Dia em que a Universidade Federal do Rio Grande do Sul proclamará Oliveira Silveira, in memoriam, Doutor Honoris Causa. A decisão estava tomada, por iniciativa do Instituto de Letras da UFRGS, onde Oliveira foi aluno, desde o auge da pandemia. Faltava o evento. A cerimônia de outorga com a presença de familiares do homenageado acontecerá na Sala do Conselho e será transmitida para o Salão de Atos, aberto a quem quiser acompanhar esse momento extraordinário.

Oliveira Silveira é um marco no enfrentamento ao racismo no Rio Grande do Sul. Nascido em Rosário do Sul, na região da campanha gaúcha, em 1941, faleceu em 1º de janeiro de 2009. Poeta, jornalista, ativista, passou a vida em luta contra o colonialismo em suas diferentes faces e em defesa dos valores da negritude. Teve papel destacado na definição do 20 de novembro como Dia da Consciência Negra. Atuou em diversas frentes com a força do seu verbo inflamado.

Wagner Machado da Silva, doutor em Comunicação pela PUCRS e coordenador do Novembro Negro da UFRGS, considera que se vive “um momento menos pior” na luta contra o racismo, que “está visível e possível de combater”. Ao meio-dia de hoje será feita a tradicional foto coletiva de professores, funcionários e alunos negros da UFRGS. A jornada terá também falas de integrantes da bancada negra gaúcha: Câmara de Vereadores de Porto Alegre, Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (Matheus Gomes, Bruna Rodrigues e Laura Sito), Câmara dos Deputados e Senado (Reginete Bispo e Daiana Santos). O senador Paulo Paim confirmou participação. É dia de reflexão e de ação.

Outra Nega Fulô

Oliveira Silveira
O sinhô foi açoitar
a outra nega Fulô
– ou será que era a mesma?

A nega tirou a saia,
a blusa e se pelou.
O sinhô ficou tarado,
largou o relho e se engraçou.

A nega em vez de deitar
pegou um pau e sampou
nas guampas do sinhô.
– Essa nega Fulô!

Esta nossa Fulô!,
dizia intimamente satisfeito
o velho pai João
pra escândalo do bom Jorge de Lima,
seminegro e cristão.

E a mãe-preta chegou bem cretina
fingindo uma dor no coração.
– Fulô! Fulô! Ó Fulô!
A sinhá burra e besta perguntou

onde é que tava o sinhô
que o diabo lhe mandou.
– Ah, foi você que matou!
– É sim, fui eu que matou –
disse bem longe a Fulô
pro seu nego, que levou
ela pro mato, e com ele
aí sim ela deitou.

Essa nega Fulô!
Esta nossa Fulô! 
(Cadernos Negros 11, p. 56-57)

A dívida ainda não foi paga. Em O abolicionismo, livro de combate pela abolição da escravatura, o branco Joaquim Nabuco cravou com estilo e precisão uma verdade que deveria ser lembrada a cada dia: “Tudo o que significa luta do homem com a natureza, conquista do solo para a habitação e cultura, estradas e edifícios, canaviais e cafezais, a casa do senhor e a senzala dos escravos, igrejas e escolas, alfândegas e correios, telégrafos e caminhos de ferro, academias e hospitais, tudo, absolutamente tudo que existe no país, como resultado do trabalho manual, como emprego de capital, como acumulação de riqueza, não passa de uma doação gratuita da raça que trabalha à que faz trabalhar”.

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