Juremir Machado da Silva

Queriam soltar o Brazão

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Queriam soltar o Brazão Sessão da Câmara confirmou a prisão preventiva do deputado Chiquinho Brazão | Foto Lula Marques/ Agência Brasil

Que país é este? Francelino Pereira perguntou. Era a ditadura. Que país é este? Legião Urbana respondeu. Era uma esculhambação. Que país é este? Millôr Fernandes analisou. Era um problema crônico. Estou preocupado com o Brasil. Elon Musk quer dizer o que pode ou não pode e Alexandre de Moraes não deixa. E essa da Câmara dos Deputados? Votaram pela manutenção do deputado Chiquinho Brazão preso. Como pode isso? Um deputado não pode nem ser acusado de ser um dos mandantes de um assassinato sem ter de ir para a cadeia? Onde fica a presunção de blindagem parlamentar pelos parceiros?

Brazão, supostamente um dos mandantes do assassinato de Marielle Franco e do motorista dela, Anderson Gomes, recebeu 129 votos em defesa da sua liberdade imediata. Quem são esses 129 bravos patriotas que preferem ver livre um parceiro atolado em acusações pesadas num crime que demanda esclarecimento há cinco anos? Quando se olha a lista dos que votaram pela liberdade de Brazão, fica-se impressionado: patriotas bolsonaristas, homens de bens, defensores de Elon Musk, críticos de Alexandre de Moraes, ferrenhos partidários da liberdade de expressão total. Será que existe um conceito ampliado de liberdade de expressão, mas tão ampliado a ponto de incluir a livre expressão do ódio ao adversário sob a forma de eliminação física?

Foto Lula Marques/ Agência Brasil

Leio que a derrota de Brazão na Câmara dos Deputados enfraquece Arthur Lira, o presidente da “Casa do Povo”. Por que mesmo? O bravo Lira só pode ser um partidário do rigor da lei. Afinal, comanda a casa da lei. Não é assim? Seria possível que uma autoridade tão relevante agisse por interesses mesquinhos, tentando ajudar um acusado de assassinato, só para implicar com um ministro do STF? É tudo muito estranho para ser verossímil. Definitivamente o Brasil não é um país verossímil. Parece o futebol do Internacional: quanto mais investe, menos confiável fica. Tem algo errado.

Ingênuo, eu jurava que haveria unanimidade na votação para manter Chiquinho preso. Na minha cabeça de tabaréu (termo da novela das nove), comedor de cacau em barras, só votaria por Brazão quem não tivesse vergonha de sair em defesa de um enrolado. Como sou bobo. Essa é uma grande verdade. Deputados podem votar contra o bom senso, contra o senso comum, contra o senso moral, contra isto e aquilo, só não votam contra seus interesses eleitoreiros. Preferem jogar para a plateia a jogar contra o próprio patrimônio, que é o poder. Pelo poder se pode matar a moral e até a lógica.

Brazão ficará na prisão. O Brasil respira. Eu me sinto sufocado. O número de partidários da sua soltura e de abstenções mostra que tudo é possível. Quando me perguntam que país é este eu faço citações. Segundo Paulo Prado, em livro de 1927, que pretendia ser um “retrato do Brasil”, “numa terra radiosa vive um povo triste”. O brasileiro. Eu reescreveria essa frase: numa terra radiosa vive um povo debochado. Um povo que debocha de si mesmo elegendo e reelegendo caras que votam por chiquinhos e outros amigos.

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