Razões de Elon Musk

O dono do X tem razão em tudo. Por exemplo, X é muito mais poético que Twitter. A beleza dessa letra supera qualquer passarinho. Elon Musk tem mais razão ainda no seu ataque ao ministro do Supremo Tribunal Federal, o intrépido Alexandre de Moraes: onde se viu não poder espalhar notícias falsas em escala industrial num aplicativo tão fácil de usar? Que democracia é essa onde a calúnia e a difamação esbarram em anteparos legais? A extrema direita brasileira está encantada com o bilionário norte-americano. Ela já não suportava mais tantas restrições. Que país é este no qual não se pode nem tentar um golpe de Estado sem parar na cadeia? Onde vamos acabar assim?

Ao longo das décadas a direita tinha direito de mentir nos meios de comunicação sem ser incomodada. Podia dizer que o Brasil é o país que mais cobra impostos no mundo. Quando confrontada com a lista de nações que tributam mais, a resposta era: “Ah, mas há mais retorno”. A mentira tinha o seu backup. Musk tem razão: a mentira deve ser um direito constitucional incontornável, uma cláusula pétrea. Como fazer campanha eleitoral sem mentir? Como prometer mundos e fundos sem enrolar? Musk é um paladino do direito à mentira. Mas não uma mentirinha qualquer, de mesa de bar, de perninhas curtas. Uma mentira capaz de fazer ganhar eleição, alterar os rumos de um país, acabar com a vida de alguém, destruir reputações, liquidar democracias, melhorar os ganhos das elites, silenciar os oponentes.

Musk tem razão: como pode um país secundário feito o Brasil querer limitar os usos de uma tecnologia dos donos do mundo? Que os Estados Unidos imponham limites ao que circula nas redes sociais se compreende, mas um país do antigo Terceiro Mundo, ah, não! Musk tem razão: que injustiça com aquelas pessoas de bem que invadiram os prédios dos poderes, em Brasília, quebrando tudo, por excesso de patriotismo, por civismo, convencidas por um negacionista de que vacina fazia mal e que bom mesmo era correr risco sem proteção, além de ter espalhado fake news sobre urnas eletrônicas sem o menor cuidado de apresentar alguma prova, pois, como sabem os filósofos, o que prova que uma prova é uma boa prova? Cada um deve dizer o que bem entende se o que for dito favorecer a direita e calar a esquerda.

A pergunta de Elon Musk é perfeita: por que tem tanta censura no Brasil? Por que só a direita fala na grande mídia? Por que negros e indígenas foram mantidos sem voz durante tantos séculos? Por que os ricos têm mais acesso aos canais de voz? Por que se fala tão pouco do escândalo que é a desigualdade neste latifúndio brasileiro? Musk deve ser coroado com o prêmio da liberdade de expressão. Afinal, ele expressou como ninguém a insatisfação dos que faziam da internet uma terra sem lei e agora se sentem desamparados diante do poder legal. Depois que Musk comprou o Twitter, a rede dos grandes debates desandou. Ele dita o que será entregue e o que morrerá na casca. Claro que para ele isso nada tem a ver com censura. É só moderação de conteúdo. Musk entrará para a história como guardião da liberdade.