Juremir Machado da Silva

Sábado de verão no Beira-Rio

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Sábado de verão no Beira-Rio Foto: Ricardo Duarte / Internacional

Fomos ao jogo do Internacional contra o Caxias, no sábado, para mostrar o Beira-Rio a três jovens franceses, Matthijs, Elsa e Arthur, que estão passando seis meses em Porto Alegre. Fomos eu, o coloradaço Leandro Minozzo, Antônia, filha dele, e sua namorada Claudiane. Arthur e Matthijs fazem pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUCRS. Pegamos o lado do sol. Quase duas horas com o astro-rei na cara. Sensação térmica de 200 graus. O primeiro tempo, dentro de campo, em termos técnicos, foi morno. No segundo tempo, o caloroso treinador argentino do Inter resolveu aquecer o jogo: tirou um meio-campista e colocou mais um centroavante, Lucca, que nem vinha recebendo grandes oportunidades. O guri, que precisa botar fogo no circo para ser notado, meteu um gol de bicicleta e outro de muita frieza.

Gol de bicicleta me agrada por uma razão incendiária: é a expressão pura da individualidade. Professor não pediu, não mandou, não treinou. O artista, no calor do jogo, entendeu que devia fazer e mandou ver. Não é fruto do esquema tático nem da suposta “ciência” do futebol que a juventude neotática, vira-lata e sertaneja adora defender com as certezas da idade.

Futebol é uma mescla sem proporções definidas entre o coletivo e o individual. Só individualismo costuma render pouco. Coletivismo obediente pode resultar em realismo socialista, mas não em quadros extraordinários como os produzidos pelo talento de um artista único. Lucca refrescou a chateação da torcida e salvou o técnico de fundir a cuca com a canícula de fevereiro. Sentado no sol estava insuportável. Imagina correndo dentro de campo. É fácil comentar do sofá e do ar-condicionado. O Inter do Coudet anda abusando das jogadas em curva ascendente descendente, mais conhecidas como chuveirinho. Deve ser para abrandar o calor massacrante dentro de campo.

Os nossos visitantes franceses parecem ter gostado da experiência, apesar do calor enfrentado, que, de brincadeira, intitulei de “tortura brasileira, jogo morno, plateia em chamas”. Eu mesmo, porém, fiquei me perguntando: por que realizar um jogo desses, no começo de um escaldante fevereiro, às quatro e meia da tarde? Não podia ser às 18h30? Ou às 20 horas? Ah, como diria Leonel Brizola, e os “interésses”. Não é de ficar admirado que jogadores corram pouco, façam corpo mole, troteiem no gramado.

O Inter foi às compras. Trouxe Alário, que ainda não apresentou suas credenciais. Borré talvez tenha sido comprado à prestação. Por isso ainda não foi entregue. Mas quem brilhou até agora foi Wanderson, que parece usar algum uniforme térmico, blindado contra a temperatura local, e Lucca, prata da casa, que vinha sendo cozinhado no banco de reservas. Em campeonatos de verão o aquecimento deveria ser dispensado. Talvez fosse melhor aplicar uma técnica de refrescamento. Gostaríamos de ter mostrado aos nossos hóspedes uma maior vibração, comemorações exuberantes. O calor era tanto que gritar sentado já provocava esgotamento. O Inter ganhou. Os nossos amigos franceses são pés quentes. Vermelhos até no rosto depois de duas horas de sol na cara.

Aí, o torcedor da casa pergunta: por que não foram do outro lado, o lado da sombra? Pois é, não pensamos nisso, achávamos que fosse inverno.

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