Juremir Machado da Silva

Vitória da democracia

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Vitória da democracia Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Para que inventar? Vamos ser diretos: venceu a democracia. Foi apertado, mas foi suficiente. Lula é presidente do Brasil novamente. Jair Bolsonaro encerra o seu calamitoso mandato. Nunca um presidente eleito foi tão abominável. O capitão só pode ser comparado aos seus ídolos, os ditadores militares que governaram o país a partir de 1964. Deu Lula e deu Eduardo Leite. O Rio Grande do Sul permanece no centro. O Brasil retoma o seu processo civilizatório. Depois da barbárie bolsonarista, a esperança, a aposta, o sonho de uma vida melhor.

Jornalista, continuo apartidário. O momento, porém, exigia posicionamento firme e claro. Bolsonaro representa tudo o que um democrata detesta: autoritário, golpista, desumano. Além disso, encarna tudo que um intelectual não suporta: grosseria, preconceito, estupidez, violência, armamentismo, ignorância, incultura, obscurantismo, negacionismo. Entristece saber que quase metade dos eleitores votou por ele. Alegre constatar que a maioria foi à luta e salvou a nação de mais quatro de horror, isolamento, vergonha e brutalidade. O governo Bolsonaro arrastou o Brasil para o passado.

Se, por um lado, a polarização vai continuar, cabe, por outro lado, saudar a maturidade da esquerda gaúcha, que apoiou criticamente Eduardo Leite, barrando o candidato do bolsonarismo. O mundo respira aliviado apostando que a Amazônia será mais cuidada e que o Brasil será novamente um parceiro em políticas importantes. Lula terá de fazer um bom governo social-democrata, com respeito à iniciativa privada e proteção aos vulneráveis. Uma expressão me ocorre repetidamente: acabou o pesadelo. Nas ruas, carnaval. O medo de uma vitória de Bolsonaro assombrava muita gente. A frente formada por Lula, com apoio engajado de Simone Tebet e Marina Silva, pedidos de votos de Fernando Henrique Cardoso e de tucanos históricos, inclusive dos economistas do Plano Real, mostrou que algo estava acontecendo.

Foi um grito contra o machismo, a homofobia, o racismo, o golpismo e a político do mais forte, dos “cidadãos de bem” de armas na mão. A esperança agora é na reconstrução do país, a começar pela educação. Como foi possível que o Brasil tenha se afundado tanto? Para Lula o triunfo tem algo de inacreditável: o retirante nordestino chega à presidência da República pela terceira vez, depois de ter do céu ao inferno, dos palácios à prisão, das glórias à humilhação, do topo ao rodapé da vida social. Condenado sem provas por um juiz parcial, fez a travessia do deserto e sobreviveu. O seu discurso emocionado foi o de quem compreendeu o momento vivido, pregando reconciliação, crescimento, igualdade, combate à fome e a promoção da paz.

O que vai acontecer? É tudo que qualquer pessoa quer saber. Jornalistas, estaremos prontos a criticar, cobrar e lembrar compromissos. Ouvir falar em paz, amor e esperança lava a alma depois de quatro anos de pregação explícita da dissenção e do ódio.

Adversários históricos como Lula e Geraldo Alckmin, petistas e tucanos, uniram-se para uma cartada que parecia improvável.

Acabou o pesadelo.

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