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Patrimônio Cultural: um fio que entrelaça cidade, memória e gerações

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Patrimônio Cultural: um fio que entrelaça cidade, memória e gerações

É sobre o que decidimos passar adiante às futuras gerações, um legado cultural, histórico e arquitetônico, que vem de outros tempos e que nós, respeitosamente, preservamos para que possa ser experienciado por nossos filhos e filhas, netos e netas. O patrimônio cultural é um fio invisível que costura a cidade, que atravessa o tempo e entrelaça gerações através de memórias.

Repositório de lembranças da vida cotidiana deste e de outros tempos, as permanências urbanas são capazes de evocar memórias diversas, por intermédio de edifícios, isolados ou em conjunto, ruas, bairros, ambiências e até mesmo através da paisagem. Diante da complexidade do nosso tempo, a reflexão que se pretende propor é: vamos preservar este fio e continuar costurando juntos?

IAB RS em defesa da preservação do patrimônio cultural

No organismo vivo e dinâmico que é a cidade, sabe-se que nem tudo permanece. O departamento gaúcho do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB RS), ao longo de seus 75 anos, sempre buscou contribuir com iniciativas e ações para, não apenas a preservação, mas também para a educação, o debate e a defesa do patrimônio cultural.

Entre muitas dessas ações, algumas marcam o presente da entidade. O IAB RS possui uma Comissão de Patrimônio Cultural, prevista em estatuto, e integra também o Conselho do Patrimônio Histórico Cultural de Porto Alegre (COMPAHC), um dos mais antigos conselhos do município, fundado nos anos de 1970, e funcionando desde então sempre com a participação do IAB. Em seu edifício, a entidade abriga hoje o Espaço IPHAE Patrimônio RS, que leva o nome e homenageia a arquiteta Briane Bicca, responsável pelo Projeto Monumenta em Porto Alegre. Ao longo dos últimos anos, construiu o Centro de Memória do IAB RS, por intermédio do projeto ACERVO, em parceria com a extensão universitária da UFRGS, e procura colaborar cada vez mais com o Ministério Público em consultas sobre questões ligadas ao Patrimônio Cultural Municipal e Estadual. Além disso, a entidade atua junto a organizações da sociedade civil, promovendo palestras e mesas de discussão acerca do tema.

Demonstração clara deste comprometimento, vale rememorar que, durante o 21º. Congresso Brasileiro de Arquitetos, organizado pelo IAB RS e realizado em Porto Alegre, foi fundado, em 10 de outubro de 2019, o Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro, com a iniciativa e a presença de colegas, profissionais e pesquisadores vinculados ao campo da preservação de diversos lugares do país, e que reúne entidades e coletivos da sociedade civil para fomentar a mobilização contra ataques promovidos ao Iphan e ao Patrimônio Cultural Brasileiro. Por meio do Fórum, o Instituto de Arquitetos foi signatário do documento que repudiou os ataques aos bens culturais de Brasília em 8 de janeiro de 2023, entendendo que restaurar o patrimônio destruído significava também reafirmar o Estado Democrático de Direito em nosso país.

Respeito às gerações passadas, pautas do presente e do futuro

É um compromisso com o não apagamento da história, assim como uma demonstração de respeito a gerações de arquitetos que ajudaram a construir as nossas cidades e as nossas paisagens. Porém, reconheçamos, nem tudo o que ainda está entre nós de tempos pretéritos representa a pleno todas as esferas da sociedade – em especial as que, em momentos passados, foram reprimidas e não tiveram suas representatividades sociais e políticas preservadas e valorizadas em períodos de grandes transformações.

O IAB RS defende a importância das ações de implementação e preservação patrimonial a fim de promover conscientização e reparação histórica também no que diz respeito aos patrimônios sensíveis, ou seja, nos temas que dizem respeito a populações escravizadas, populações indígenas exterminadas e vítimas de crimes cometidos por governos autoritários, através da criação de sítios de consciência. Entende-se este também como um movimento fundamental para o fortalecimento de nossa democracia.

Além destas pautas, outras também são caras ao departamento, como por exemplo, a assistência técnica para o patrimônio, em particular, a que diz respeito à habitação de interesse social. Entendemos que não podemos mais tratar de revitalização de centros históricos sem perpassar pela política habitacional.

No que diz respeito à preservação de acervos de arquitetura e urbanismo, o IAB RS tem sido pioneiro, prezando pela salvaguarda de arquivos que pertenceram a colegas, entre os quais, pode ser citada a arquiteta Enilda Ribeiro. Com isso, trajetórias profissionais, produção projetual e intelectual, e a história própria da entidade, vêm sendo tratadas pelo Centro de Memória, conforme acima citado, em sintonia com outras iniciativas no Estado do RS e do país.

E, visto as políticas públicas desenvolvidas nos últimos 20 anos no Brasil, também interessa ao IAB RS debruçar-se sobre os modos de criar, fazer e viver, pois, segundo a definição constitucional de patrimônio cultural, esta diz respeito não somente aos bens materiais, mas também aos imateriais.

Um motivo para comemorar: o retorno de uma fachada para Porto Alegre

No último agosto, mês do patrimônio cultural brasileiro, o IAB RS, com muita satisfação, entregou à cidade de Porto Alegre a restauração da fachada de sua sede, na rua Riachuelo. Foi o ápice de um dia repleto de ações de valorização e conscientização do patrimônio, realizados por outras entidades, a exemplo do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU/RS), e a iniciativa do IAB e sua representação no COMPAHC intitulada “Ruas que não andei” no Centro Histórico – parcerias que também são celebradas e apoiadas pelo Instituto.

A primeira etapa da obra de restauro no Solar Conde de Porto Alegre, a sede do IAB RS, iniciou nos anos 2000 e atravessou diferentes gestões do departamento gaúcho do IAB. Sua revitalização demandou uma equipe multidisciplinar, que estudou os diversos usos do prédio ao longo de sua história. Foi, portanto, a conclusão de um trabalho coletivo.

E coletiva, também foi a sua entrega. Uma festa que ocupou a rua e costurou memórias, reunindo colegas, amigos e familiares de diversas gerações numa celebração à valorização da história de Porto Alegre. Uma celebração, enfim, dedicada ao patrimônio cultural, esse fio invisível da cidade que nos une.

Com colaboração da Comissão de Patrimônio Cultural IAB RS

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