Cheia em Porto Alegre é a maior desde a super enchente de 1941
Cais Mauá na quarta-feira (28). Foto: Pedro Piegas / PMPA
A cheia de setembro alcançou ontem a condição de maior das últimas oito décadas em Porto Alegre. Desde a célebre e arrasadora enchente de 1941, o nível do Guaíba não subia tanto como nesta quarta-feira.
No meio da tarde, no Cais Mauá, a água atingiu a marca de 3,18 metros, 18 centímetros acima do limite a partir do qual o lago transborda naquela zona e começa a inundar a região central. Fazia mais de 50 anos que a cota de inundação não era ultrapassada. A última vez foi em 1967, com 3,13m. Na cheia de 1941, o índice foi de 4,75m. Hoje pela manhã, o nível já havia baixado para 2,92m.
O que se viu ontem foi um cenário que as gerações mais novas nunca haviam presenciado. O Guaíba avançou para cima do cais, cercou os armazéns e só foi contido pelo Muro da Mauá. As operações portuárias foram suspensas. Todas as 14 comportas do sistema contra cheias estavam fechadas, o que só havia ocorrido uma vez antes, em 2015. Sacos de areia, perfazendo 190 toneladas, foram empilhados junto às comportas para limitar vazamentos.
É a primeira vez que o muro, construído em 1971 como parte de um amplo sistema de proteção contra cheias, demonstra sua utilidade. A partir de agora, a discussão sobre a sua derrubada, tema recorrente nas últimas décadas, terá de incorporar novos termos, ainda mais num cenário em que grandes cheias devem se tornar cada vez mais comuns, em razão das mudanças climáticas. A retirada do muro, prevista no edital de concessão do Cais para a iniciativa privada, exigiria uma alternativa contra cheias.
Na orla turística, o Guaíba ganhou fúria de mar, com as ondas batendo forte no concreto. Boa parte da estrutura de lazer – passarelas, deques, quadras esportivas, praças infantis e trilhas – ficou submersa. A água chegou perto de atingir os bares do local. O lago também transbordou na zona sul da cidade, alagando bairros como Lami, Belém Novo, Tristeza, Guarujá e Ipanema. Na manhã de ontem, o corpo de um homem foi localizado dentro do Guaíba, na zona da orla. A provável causa da morte é afogamento, mas ainda não se sabe se ele foi vítima da enchente.
O que mais você precisa saber
Moradores das ilhas do Guaíba estão em situação crítica – No bairro Arquipélago, onde moram 8 mil pessoas, as condições se tornaram dramáticas. O Guaíba ficou 72 centímetros acima da cota de inundação na Ilha da Pintada, invadiu ruas e casas, submergiu carros e levou moradores a acampar em zonas mais elevadas. Na Ilha das Flores, pessoas circulavam com água na altura do peito ou em pequenas embarcações. Na Ilha Mauá, casas desmoronaram. Até mesmo o abrigo montado pela prefeitura na Ilha Grande dos Marinheiros, onde 50 pessoas haviam buscado proteção, inundou. A estação de tratamento de água que atende as ilhas foi atingida e parou de funcionar, deixando a população desabastecida. Moradores relataram ter usado a água do Guaíba para atender suas necessidades. As imensas perdas materiais causaram desolação entre os atingidos. As inundações também afetaram municípios vizinhos banhados pelo Delta do Jacuí, pelo Guaíba ou pela Lagoa dos Patos, como Barra do Ribeiro, Canoas, Eldorado do Sul e Guaíba.
Vala com água represada deixa recicladores sob risco de contaminação – As chuvas fizeram recicladores da zona norte de Porto Alegre perderem o material que coletaram e ainda os deixou sob risco de contaminação, segundo reportagem da Matinal. O problema ocorre no galpão gerido pela Cooperativa Mãos Unidas, construído onde anteriormente havia um lixão. As obras de elevação e ampliação da Avenida Severo Dullius, no local, deram origem a uma vala que alagou por causa da cheia. Como o lixão não foi devidamente descontaminado, os resíduos agora subiram à superfície da vala. “Com a chuva, não é só água que se acumula. Sobe o chorume, originando um ambiente insalubre. As pessoas não podem trabalhar ali. Para drenar, o custo é elevado”, diz Simone Pinheiro, secretária do Fórum de Catadores/as de Unidades de Triagem de Porto Alegre. O fórum enviou um ofício ao DMLU e à SMOI solicitando providências. À Matinal, a prefeitura informou que a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social vai agir, mas não foi fixado um prazo.
“A bíblia do conselheiro tutelar é o ECA, não a Bíblia Sagrada” – Neste domingo, municípios de todo o Brasil elegem seus novos conselheiros tutelares (em Porto Alegre, a microrregião 1 teve a eleição adiada por causa da enchente). É um momento importante, ainda que negligenciado por grande parte dos eleitores. Para falar sobre o que está em jogo, a Matinal entrevistou a psicóloga Carmen Oliveira, ex-secretária nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Na conversa, ela alertou que as conquistas asseguradas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, podem estar em risco, principalmente devido à ascensão de candidatos conservadores, ligados a igrejas ou a partidos políticos. “A bíblia do conselheiro tutelar é o ECA, e não a Bíblia Sagrada. As situações têm de ser interpretadas à luz desse marco legal, não de uma valoração ideológica ou religiosa”, afirmou. Por causa da penetração de grupos religiosos e conservadores nos conselhos tutelares, fenômeno que ocorreu em paralelo à expansão bolsonarista, entidades progressistas estão se mobilizando para engajar a sociedade no pleito deste ano. Leia a entrevista completa aqui.
Outras notícias:
- A prefeitura de Porto Alegre vai encaminhar um PL à Câmara dos Vereadores para acelerar o pagamento de auxílios às famílias atingidas pelas chuvas. O prefeito também deve editar o decreto de alerta para viabilizar a busca de recursos urgentes junto ao governo federal.
- Uma comitiva do Planalto vem ao estado hoje para reuniões no Vale do Taquari, região mais afetada pelo ciclone do início do mês. O grupo conta com a primeira-dama, Janja.
- O presidente Lula não participa da visita em função da cirurgia no quadril que deve realizar amanhã. Ontem, ele recebeu o governador Eduardo Leite (PSDB) para tratar de medidas de enfrentamento aos danos causados pelas últimas chuvas.
- A propósito, mais uma vítima foi identificada em Roca Sales, elevando para 50 o número de óbitos da enchente no Vale do Taquari, onde seguem as buscas por oito desaparecidos.
- Em comemoração aos 154 anos do Mercado Público, oficinas de culinária gratuitas serão oferecidas de 4 a 6 de outubro. Interessados podem se inscrever pelo instagram do Mercado, via mensagem privada, até o dia 1º.
- Três unidades do Hospital de Clínicas de Porto Alegre estarão com seus atendimentos suspensos para manutenção a partir de sexta-feira. As atividades retornam no dia 23 de outubro.
- A reunião entre o prefeito Sebastião Melo (MDB) e a comissão de trabalhadores da Carris terminou sem acordo. Com isso, a paralisação dos funcionários está confirmada.
- Um documento assinado por várias entidades, com denúncias sobre supostas irregularidades em lei urbanísticas aprovadas em Porto Alegre, foi entregue ontem ao Ministério Público de Contas.
- A consultoria Ernst & Young apresentou uma proposta para a revisão do Plano Diretor da capital ao conselho municipal. O estudo propõe utilizar sociedade, infraestrutura e meio ambiente como dimensões para nortear as mudanças.
- Interessados em ocupar espaços na Feira Ecológica da Tristeza têm até o dia 2 para realizar suas inscrições.
- Juremir faz a “ficha do golpe de 8 de janeiro”. “Mentor: Jair Bolsonaro. Executores: bolsonaristas ligados ao capitão. Massa de obra: ‘patriotas’ acampados em frente a quartéis”. Leia a coluna completa.
Cultura
Agenda
O #EsquentaPVA antecipa os 25 anos do Porto Verão Alegre – que serão celebrados em 2024 – com atrações de hoje a sábado, começando por uma conversa entre a cantora Anelis Assumpção e a escritora Winnie Bueno, com mediação de Roger Lerina, às 20h, no Farol Santander.
A cantora Adriana Deffenti apresenta músicas do álbum Elis & Tom, acompanhada da banda do projeto O Samba é Meu Dom, às 20h, no Teatro Sinduscon-RS.
O festival Jazz Day recebe o trombonista e cantor carioca Josiel Konrad, no Farol Santander, às 20h.
Às 21h30, Ivan Lins apresenta o showA Gente Merece Ser Feliz, no Auditório Araújo Vianna.
O rapper Thaídecanta no Bar Opinião, às 23h.
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Você viu?
Aproveitando o Setembro Verde, mês de conscientização sobre doação de órgãos, GZH acompanhou uma simulação do procedimento de transporte de órgãos para transplante. Realizada pela EPTC, a ação contou com batedores, que completaram em 15 minutos o trajeto entre o Aeroporto Salgado Filho, local onde podem chegar os órgãos, e o Hospital Dom Vicente Scherer, especializado em transplantes. O tempo normal do trajeto é estimado em 25 minutos. A agilidade é considerada crucial para o êxito das cirurgias. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, 424 transplantes foram realizados neste ano, entre janeiro e agosto, alta de 36% em relação a 2022. Em nível nacional, projeções indicam que 2023 pode bater o recorde de doações anuais.
