Porto Alegre protesta contra falta de luz e água
Moradores da a Vila Maria da Conceição protestam contra falta de luz e água. Foto: Divulgação
Passadas quase 48 horas desde o temporal que deixou mais de 1 milhão de pessoas sem energia elétrica no estado e quase 90% da capital sem água, a população de Porto Alegre foi para as ruas. Pelo menos seis bloqueios de vias foram registrados pela EPTC em função de protestos ao longo da quinta-feira. Já a Brigada Militar contabilizou 25 manifestações. Houve atos nas zonas sul e norte da cidade. Até a noite de ontem, pouco mais de 350 mil consumidores ainda estavam sem energia elétrica no estado; em Porto Alegre, 41 bairros permaneciam com abastecimento de água comprometido.
Enquanto moradores queimavam pneus, o prefeito Sebastião Melo, que na quarta implorava por um contato com a Equatorial no Twitter, reuniu-se com o CEO do grupo que controla a companhia, Riberto Barbarena. O diretor, aliás, negou que tenha havido problema de comunicação com a prefeitura, mas comprometeu-se em criar uma linha direta com o Dmae e a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos para receber as demandas prioritárias do executivo. O tom duro das críticas feitas pelo prefeito até então deu lugar a uma manifestação mais amigável no encontro. Melo fez questão de reafirmar que não se arrepende de ter votado a favor da venda da estatal e que acredita na possibilidade de “construir na divergência”.
Barbarena ainda pediu um voto de confiança da população e mais uma vez estimou para sábado a normalização total do serviço. Antes do encontro, porém, havia dado domingo como prazo. No meio da crise, a empresa publicou nas redes um vídeo em que anuncia o reforço no quadro de eletricistas fazendo analogia a contratações futebolísticas, um deboche na visão de muitos consumidores. Até o fechamento desta edição, Porto Alegre tinha 62 unidades de saúde sem energia elétrica. A luz no Hospital de Pronto Socorro foi restabelecida na manhã de ontem.
Também ficou para sábado a previsão do restabelecimento total da água na capital. Melo reforçou o pedido à população para o uso racional da água nos próximos dias, e decretou nível 2 na situação de emergência da cidade, o que permite ao executivo receber recursos estaduais e federais de forma facilitada, além de dispensar de licitação aquisições de bens e prestações de serviços relacionadas aos danos provocados pelas chuvas.
O temporal em números – Em 48 horas, Porto Alegre registrou 68,8 milímetros de chuva. O valor é equivalente a 62% da média histórica para janeiro, que é de 112,1 milímetros. Cidades como Santa Rosa e Ijuí superaram, em dois dias, a média do mês.A Defesa Civil do RS atualizou para 51 o número de municípios atingidos, a maioria na região metropolitana e central do RS. Uma pessoa morreu em Cachoeirinha, outras 12 ficaram feridas e mais de 300 estão desalojadas.
O que mais você precisa saber
CPI sobre a CEEE tem apoio de dois terços dos vereadores – Articulada pela vice-líder do governo Melo, a vereadora Cláudia Araújo (PSD), a criação de uma CPI para investigar a atuação da CEEE Equatorial em Porto Alegre já obteve o número mínimo de assinaturas. Na justificativa, a parlamentar destaca dez argumentos, entre eles estão questões ambientais, como o manejo de podas, a redução no quadro de funcionários e a comunicação com os clientes, além da “série histórica e crescente de problemas enfrentados pelos consumidores”. Até as 19h de ontem o requerimento contava com 24 assinaturas, reunindo vereadores da direita à esquerda. Agora, sua tramitação dependerá de aval da Mesa Diretora, que se reúne na volta do recesso, em 1º de fevereiro. Em paralelo, a bancada do PT na Assembleia começou ontem a recolher assinaturas para uma instalação de CPI em nível estadual. A comissão, segundo o deputado Luiz Fernando Mainardi (PT) teria o objetivo de “garantir que a prestação de serviço esteja a contento”, e não uma eventual reestatização da companhia. A Equatorial também foi cobrada pela Defensoria Pública, que encaminhou ofício com questionamentos à empresa, e pelo Ministério Público, que destacou a urgência na melhora da comunicação e do atendimento prestado à população.
Adiamento da eleição de entidades ao CMDUA amplia prazo para recursos – A prefeitura de Porto Alegre adiou a eleição das entidades representativas da sociedade civil no Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano e Ambiental (CMDUA), o conselho do Plano Diretor. Inicialmente marcada para 8 de fevereiro, o pleito agora ficou para 29 de fevereiro. Com o novo calendário, as entidades que por ventura já tiveram documentação questionada terão cerca de um mês para se adequarem. Das 80 inscritas, apenas 14 já tiveram toda a documentação aprovada. Dentre as que tiveram a incrição questionada estão, por exemplo, Instituto Caldeira, Sindicato de Hotéis de Porto Alegre, Cooperativa de Trabalho e Habitação 20 de Novembro e Instituto de Estudos Empresariais. Segundo o secretário de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade, Germano Bremm, o número recorde de participantes motivou o adiamento, para dar tempo de uma análise mais acurada dos pedidos de impugnação. A mudança, porém, não foi unânime. As entidades buscam nove assentos no CMDUA que, entre outras questões, delibera sobre o Plano Diretor de Porto Alegre. Diferentemente das eleições que estão ocorrendo desde o dia 9, esta votação não é aberta à população, participam apenas os representantes das entidades. Leia mais na Matinal.
Largo Elis Regina, ao lado do Gasômetro, vira estacionamento em dias úteis
A prefeitura não foi exitosa em seu plano de criar um estacionamento subterrâneo na Redenção, mas isso não deteve a sanha de abrir espaços aos carros em Porto Alegre. A gestão de Sebastião Melo autorizou um estacionamento privado no Largo Elis Regina, que fica ao lado da Usina do Gasômetro, a 40 metros da margem do Guaíba, e abriga uma estátua da cantora. A Gam3 Parks, empresa que assumiu a gestão do primeiro trecho da orla e do Parque Harmonia, obteve a permissão porque tem a licença contratual para “fazer captação de receita por qualquer meio lícito e desde que autorizado” na área, segundo informou secretaria de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus).
Quando perguntada pela Matinal sobre o documento que autorizou a reserva de espaço para carros, a prefeitura disse não tê-lo à disposição. O espaço já recebeu atividades culturais, shows e feiras, além de atrair frequentadores para um mate, exercícios ou apreciar a vista do prédio histórico à beira do lago. Agora abriga carros e motos de segunda a sexta-feira, das 8h às 23h. Segundo a Gam3 Parks, durante a realização de atividades culturais, a operação não funciona no largo. Leia reportagem completa aqui.
Outras notícias:
- Devido à falta de água e luz em diversos pontos de Porto Alegre e região há dois dias, itens como gelo, água, velas e lanternas começam a acabar em mercados.
- Outra consequência da interrupção dos serviços básicos é o aumento de até 100% na procura de hotéis na capital e região metropoitana. Já no litoral norte, a situação é inversa: hóspedes estão cancelando a estadia para voltar para casa e ver os estragos da chuva.
- Ainda no rescaldo dos problemas causados pelo temporal, a UFRGS suspendeu o expediente interno e as aulas pelo terceiro dia consecutivo nesta sexta.
- “A Equatorial é caso de estudo: por onde passa, piora os serviços. Achou que podia fazer mais com menos para ganhar mais ainda. Cortou pessoal e deu no que temos: bairros centrais de Porto Alegre 48 horas sem energia.” Leia a coluna completa de Juremir Machado da Silva.
- Após a tormenta, o Corpo de Bombeiros registrou oito incêndios e 22 solicitações para corte de árvores.
- Melo vetou o tombamento da Escola Maria Thereza da Silveira como Patrimônio Histórico Educacional. O prédio, que fica em uma área cobiçada entre os bairros Bela Vista e Mont’Serrat, agora pode ser vendido.
- As inscrições para o Concurso Nacional Unificado, conhecido também como Enem dos Concursos, começam hoje no site do Governo. Há uma taxa de 60 reais para o nível Médio e de 90 reais para o Superior.
Carta da Editora
A motosserra de Melo
Uma mensagem no X (antigo Twitter) resume a crise climática vivida por Porto Alegre. O prefeito Sebastião Melo pediu doação de motosserra para ajudar a prefeitura a remover as árvores caídas durante o temporal de terça-feira. No pedido insólito, um apelo: “A vida só tem sentido se ela for comunitária”.
Dois meses atrás era Melo quem recebia da comunidade uma “motosserra de ouro”. Entregue por ambientalistas, a ação foi um protesto contra a política ambiental do município.
Leia a coluna completa da editora-chefe Marcela Donini.
Cultura
Agenda
Os eventos da agenda não haviam sido cancelados até o fechamento desta edição. No entanto, desde ontem, devido aos transtornos provocados pelas chuvas, diversas atividades culturais foram adiadas. Antes de se deslocar, consulte os canais dos espaços culturais para confirmar a realização dos eventos.
Hoje
No Teatro Oficina Olga Reverbel, às 19h, será apresentado o espetáculo Sem Cerimônia, com direção de Leo Maciel, integrando a programação do Porto Verão Alegre (PVA).
A Sbørnia Kontra’Atracka inicia uma série de apresentações, sextas e sábados, às 20h, e domingo, às 18h, no Theatro São Pedro.
Ana Medeiros e Daniel Debiagi encenam a comédia musical Ay Mi Amor, às 20h, na Casa de Espetáculos. (PVA)
Às 20h, no Átrio do Farol Santander, Luana Pacheco e Luciano Leães fazem show com o Jazz das Minas (Maíra Freitas e Trio). (PVA)
A peçaNovas Comédias Dessa (e da Outra) Vida será apresentada, às 20h30, no Teatro Bruno Kiefer. (PVA)
De hoje a domingo, às 20h30, O Inverno do Nosso Descontentamento – Nosso Ricardo III, com direção de Luciano Alabarse, retorna ao palco do Teatro Renascença. (PVA)
Sábado (20/1)
Às 18h, na Fundação Ecarta, os cantores e compositores Maurilio e Nina Fola fazem o show Juntos.
Sábado e domingo, às 20h, no Centro Histórico-Cultural Santa Casa, Diego Mac e Gui Malgarizi coreografam os bailarinos de Abobrinhas Recheadas – Dance a Letra. (PVA)
Com direção de Ricardo Zigomático,Milhões Contra Um é a atração, sábado e domingo, às 20h, na Sala Álvaro Moreyra.
Domingo
Às 20h, o trio norueguês Gard Nilssen Acoustic Unity toca do Átrio do Farol Santander. (PVA)
Clique nos links para informações sobre ingressos, endereços e detalhes dos eventos.
Você viu?
Na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), as refeições dos estudantes nos Restaurantes Universitários (RUs) têm a mão dos agricultores familiares da região. Gisele Dutra, nutricionista da instituição, conta que a medida começou em 2019, um ano após a terceirização dos serviços dos RUs, para cumprir uma lei do Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE), que determina que 30% da aquisição dos alimentos devem vir da agricultura familiar. Desde então, parte da comida que chega na universidade, incluindo frutas, saladas e grãos, vem dessa fonte que valoriza a economia local e tem menos agrotóxicos.
Mas ainda é difícil cumprir a meta prevista em lei, já que o montante das refeições costuma ser maior do que a produção consegue dar conta, principalmente devido às perdas na agricultura. Neste momento, a UFPel está com credenciamento aberto até 29 de janeiro para produtores interessados em fornecer alimentos aos RUs.
