Após demora na autorização, mostra sobre a ditadura militar abre hoje na Câmara de Vereadores
Começa hoje, na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, a mostra “Memória, Verdade e Justiça”, que exibe uma série de fotos de locais onde a ditadura militar torturou cidadãos na capital. Protocolado pelo vereador Giovani Culau (PCdoB) no dia 8 de março, o pedido demorou para ser autorizado – só obteve os votos necessários dos integrantes da Mesa Diretora na noite de quinta-feira, conforme apurou a Matinal.
Antes disso, no dia 25, a Mesa Diretora cobrou de Culau os conteúdos que seriam exibidos na exposição. Depois de enviados os materiais, em uma nova comunicação, no dia 28, quinta-feira, o vereador foi convidado a comparecer à reunião da Mesa no dia 3 de abril para “apresentar o conteúdo”. A decisão, naquele momento, inviabilizaria o início da mostra no dia 1º de abril, data simbólica por marcar os 60 anos do golpe.
Na noite de quinta-feira, o diretor-geral da Mesa José Alfredo Santos Amarante assinou o despacho que permitiu a abertura da mostra na segunda, “haja vista a data de início da exposição, de modo a não atrasar o evento, e em respeito ao trabalho do parlamentar”, comunicou o documento.
Antes da decisão à favor da mostra, Culau afirmou à Matinal que temia por censura. “A decisão da Mesa foi não autorizar a exposição. Eles não falam isso explicitamente na redação. Dizem que querem conversar comigo para saber o conteúdo, mas este já estava anexado no processo”, destacou, explicando que procurou cada um dos sete integrantes da Mesa Diretora em busca de um retorno sobre a exposição nesta semana e apresentando o conteúdo. “Eu tenho certeza que este não é o procedimento para qualquer exposição. Tenho certeza que é uma decisão política”, avaliou.
Conforme a Matinal apurou, a autorização para exposições na Câmara costuma ser um processo protocolar e são raras as vezes em que o conteúdo é analisado. Geralmente são rápidas. Neste caso, porém, foram 20 dias entre o pedido e a autorização.
De acordo com a resolução que estabelece as regras para a autorização da Câmara para mostras expositivas, aprovada em 29 de fevereiro deste ano, as exposições devem ter classificação indicativa livre para todos os públicos, com exceção do T Cultural Teresa Franco, que pode receber mostras com classificação indicativa diversas.
Exposição é parceria com estudantes da UFRGS
A exposição “Memória, Verdade e Justiça” foi planejada em parceria com estudantes de História da UFRGS responsáveis pelo projeto “Trajetos de Memória – Caminhos da Ditadura em Porto Alegre”. Intitulada “Memória, Verdade e Justiça”, a mostra consiste em uma série de fotos de locais como o Dopinho, a Esquina Democrática e a Praça Argentina, acompanhado de textos que abordam os eventos e violações dos direitos humanos durante a ditadura em locais específicos da cidade, assim como os locais de resistência. A mostra segue em cartaz até 10 de abril.
Criado em 2016, o projeto Caminhos da Ditadura mapeia os lugares ligados ao período da ditadura militar em Porto Alegre. O mapa digital surgiu ainda na graduação da então estudante de História (UFRGS) Anita Natividade Carneiro, que se aprimorou nas referências de locais e de debates teóricos, refletindo sobre a importância dos mapas digitais no ensino de história.
Nos anos seguintes, o projeto expandiu-se para uma proposta de trajeto de memória da cidade, colocando no mapa mais de 200 espaços de violações dos direitos humanos, torturas e resistência. A iniciativa conta com saídas mediadas uma vez por mês – mais informações são divulgadas nas nas redes sociais do projeto.
Veto à exposição levou caso à Justiça em 2019
Em 2019, a então presidente da Casa, Mônica Leal (PP) encerrou a exposição “Independência em Risco” ao considerar algumas das charges desrespeitosas com o presidente da época, Jair Bolsonaro. Na semana seguinte, a exposição foi retomada por meio de uma decisão judicial.
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