Reportagem

Coordenador de experimento com proxalutamida cometeu crime contra a humanidade, conclui CPI da Pandemia

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Coordenador de experimento com proxalutamida cometeu crime contra a humanidade, conclui CPI da Pandemia Relatório da CPI da Pandemia recomenda o indiciamento de 66 pessoas físicas e duas pessoas jurídicas (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

Flávio Cadegiani coordenou pesquisas com o remédio em pacientes com Covid-19 no Rio Grande do Sul e no Amazonas. Estudo gaúcho não teve autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa

Apresentado nesta quarta-feira pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), o relatório da CPI da Pandemia recomenda o indiciamento de 66 pessoas físicas e duas pessoas jurídicas. Entre elas está o endocrinologista Flávio Cadegiani, que coordenou os experimentos com proxalutamida em hospitais no Amazonas e no Rio Grande do Sul. O médico é acusado de cometer crime contra a humanidade. “Há fortes indícios de violação de direitos humanos dos participantes desse estudo pelo Dr. Flávio Adsuara Cadegiani, com a indevida utilização de proxalutamida, fármaco cujo uso também era defendido pelo presidente Bolsonaro”, diz o relatório. Para o relator da CPI, as pesquisas com o remédio indicam “que seres humanos foram utilizados como cobaias”.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, e os ministros da Saúde Marcelo Queiroga e Eduardo Pazuello também figuram na lista apresentada no documento, além do deputado gaúcho Osmar Terra (MDB). As sugestões de indiciamento se baseiam no negacionismo em relação ao coronavírus e às vacinas, que teria aumentado o número de mortos no Brasil. Também estão consideradas no relatório as suspeitas de corrupção nas negociações para a compra de vacinas pelo Ministério da Saúde e as mortes que teriam sido provocadas pelo uso de tratamentos sem respaldo científico contra a covid-19.

É o caso da proxalutamida, que não tem uso comercial liberado em nenhum lugar do mundo. O estudo em pacientes com Covid em Manaus teria matado mais de 200 pessoas. Já em Porto Alegre, não há notificações sobre óbitos. O caso gaúcho veio a público com uma reportagem publicada em agosto pelo Matinal. Cadegiani esteve à frente do experimento realizado no Hospital da Brigada Militar, do qual teriam participado cerca de 60 pacientes internados com covid-19 na UTI.

Na época em que o medicamento foi importado, só havia autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para uso de proxalutamida em pesquisas científicas, ou seja sem fins regulatórios, na clínica de Cadegiani situada em Brasília, mas o medicamento acabou distribuído para hospitais do Amazonas, Rio Grande do Sul e Santa Catarina a revelia dos órgãos reguladores. No caso gaúcho, o termo de consentimento entregue aos participantes do experimento faz propaganda do remédio, coage pacientes e não traz informações sobre o que fazer em caso de efeitos colaterais, de acordo com a análise de cientistas e especialistas em ética médica ouvidos pelo Matinal.

Cadegiani receitou dose inédita de proxalutamida a paciente em Brasília

Mais uma vez voando abaixo do radar da Anvisa e da Conep, Cadegiani administrou proxalutamida a pelo menos um paciente em sua clínica em Brasília. Segundo relatório publicado sobre o caso na revista britânica British Medical Journal (BMJ) em 15 de fevereiro, o paciente, de 28 anos e diagnosticado com covid-19, recebeu uma dose inédita de proxalutamida, relata uma reportagem do El País.

No Brasil, só é possível adquirir um remédio sem registro da Anvisa com o propósito de estudo clínico aprovado pela Conep ou por meio de solicitação de uso compassivo, em casos de doenças debilitantes e graves para as quais não exista medicação. Mas no caso registrado em Brasília, o paciente não fazia parte de nenhum estudo clínico. Além disso, a Anvisa disse que “não houve solicitação de uso compassivo do medicamento proxalutamida. A regulamentação define que o acesso a medicamentos por meio de uso compassivo ou acesso expandido devem ser previamente autorizados”. O caso também não tinha aprovação da Conep.

* Com informações da Agência Senado

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