Estudante cria cartilha para incentivar o direito da mulher à cidade
Trabalho, que será distribuído em periferia, foi disponibilizado para download
Mais que um projeto de final de curso, uma iniciativa de educação urbana. Esta foi a proposta da estudante Anna Cândida Valentim, de 22 anos, que se forma em Arquitetura e Urbanismo na Faculdade do Futuro, em Manhuaçu, interior de Minas Gerais, neste ano. Ela é autora de uma cartilha intitulada “Cidade Delas: espaços urbanos mais seguros para meninas e mulheres”, que ficou disponível para download no site ArchDaily.
Ao Matinal, a estudante relatou que teve como meta colaborar com a sociedade por meio de um trabalho mais lúdico durante uma visita ao Morro da Penha, no município vizinho de Manhumirim, também no interior de Minas. “Na minha monografia, eu tive como área de estudo em uma região periférica. Percebi que o acesso dentro do morro era muito precário. Ninguém sabia o que era direito à cidade. Pensei em tentar levar esta informação a este lugar”, contou. “Meu TCC 2 foi a cartilha.”
A ideia foi criar algo simples e lúdico: “Pensei num formato dinâmico, colorido, para levar um assunto sério a pessoas que não têm acesso a esse tema”. Ao fim deste semestre, Anna voltará à região para distribuir gratuitamente as cartilhas às famílias da área. Foi mais de uma centena de livretos impressos, investimento que ela fez com a própria renda.
Depois de concluir a faculdade, a jovem pretende seguir na temática urbana feminista dentro do planejamento urbano. Em especial por viver longe de grandes centros – Manhuaçu e Manhumirim não chegam a ter 25 mil habitantes, cada. “Ninguém fala sobre isso em cidades pequenas, justamente por ser pequena”, afirmou.
Debate necessário
Em agosto, em entrevista ao Matinal, a professora do Programa de Pós-Graduação de Planejamento Urbano e Regional (Propur) da UFRGS, Clarice Misoczky de Oliveira, comentou que questões de gênero e de raça são recentes no planejamento urbano e destacou a necessidade de um aprofundamento do tema. “Existe a ideia que se planeja para um homem universal, que as heterogeneidades não são incorporadas, reconhecidas”, observou ela, que havia sido convidada para debater o Plano Diretor de Porto Alegre. “É um debate sério e necessário.”
No ano passado, a Revista Parêntese também dedicou espaço à discussão sobre a construção da cidade na perspectiva das mulheres, numa edição cujos textos majoritariamente foram escritos por… mulheres.