Em “relativo controle”, covid volta a crescer no RS em março
Brasil alcançou ontem a marca de 700 mil vítimas da doença; RS é o quinto estado em óbitos relacionados ao coronavírus
O Brasil atingiu nesta quarta-feira, dia 28 de março, as 700 mil mortes por covid-19. A marca aponta para uma clara desaceleração de óbitos, que coincide com a massificação da vacinação – alguns grupos já têm liberadas para si uma quinta dose da vacina, já com a atualização para a cepa ômicron, responsável pela última grande onda de contágios.
No Brasil, as 100 mil mortes recentes ocorreram em um período de 536 dias, cerca de um ano e cinco meses. Para comparação, entre a vítima 500.001 e 600 mil se passaram 110 dias, enquanto no pior momento no país, 100 mil pessoas perderam a vida em decorrência do coronavírus em apenas 36 dias, entre março e abril de 2021.
O Rio Grande do Sul é o quinto estado com maior número de vítimas da covid-19, 41.965 registros. O RS fica atrás de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná. O RS, no entanto, tem uma das menores letalidades do Brasil, com 1,4%, enquanto Santa Catarina e Espírito Santo, que têm as menores, reportam 1,1%. A maior é do Rio de Janeiro, com 2,8%. Os dados são do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
Em pouco mais de três anos de pandemia, Porto Alegre registrou a morte de 6.639 pessoas. Ainda que não tenha a maior mortalidade do Estado, é a cidade gaúcha que mais perdeu moradores para a doença.
“Nós já vivemos uma situação de relativo controle do vírus, onde ele circula, acomete e adoece as pessoas, mas esse adoecimento não é grave. E isso sem dúvida se deve à vacinação em massa”, explica o epidemiologista da UFRGS Paulo Petry. Sem perder o embalo na resposta, ele aproveita e reforça: “Aqui vai a um apelo aos teus leitores, que se vacinem, que completem o ciclo vacinal”.
No Rio Grande do Sul, apesar de índices elevados do esquema vacinal primário (as duas primeiras doses), a taxa de vacinação cai a partir da primeira dose de reforço, a qual quase 3 milhões de gaúchos não tomaram, pelos dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES). “É o cenário atual: é um vírus que circula, não é mais tão letal, mas pode ser letal conforme a pessoa. O cuidado principal é a vacinação”, ressalta Petry. “As vacinas são altamente protetoras. Costumo usar uma frase em aula: ‘um medicamento salva uma vida, a vacina salva uma população’. A vacinação é um gesto coletivo”.
Crescimento recente no RS
Apesar dos índices mais baixos, a incidência de covid-19 voltou a crescer no Rio Grande do Sul em março. De acordo com a SES, até ontem 22,5 mil casos haviam sido confirmados. É mais que o triplo de fevereiro, quando os órgãos registraram 6,7 mil. O número de casos ativos chegou a estar em menos de 3 mil em solo gaúcho durante o mês passado, mas chegou ao fim de março próximo de 11,5 mil. Na última quinzena do trimestre, o número de internados no Estado saltou de 11 para 38.
“Posteriormente ao carnaval, a gente já esperava um aumento de casos. É preciso entender que são coisas diferentes: uma é o número de casos e, como o vírus ainda circula, é natural que haja um aumento por conta do carnaval. O que felizmente não aumentou foi o número de internações na mesma proporção e também não aumentou o número de mortes”, analisa o epidemiologista Paulo Petry.
De acordo com o boletim InfoGripe da Fiocruz, divulgado na última segunda-feira, o RS e mais 17 estados apresentaram tendência de crescimento de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no longo prazo. A mesma situação ocorre em 20 capitais, incluindo Porto Alegre. O principal vírus causador da SRAG segue sendo o Sars-Cov-2, responsável pela covid.
Ante esse cenário, Petry salienta que o vírus não deve desaparecer. “Aquela mortalidade que uma vez nós tivemos não vai se repetir. É uma tendência mundial. Mas vai haver sempre um número de mortes, não sabemos qual, e desejamos que seja o menor possível, por isso a recomendação tão enfática no sentido que as pessoas se vacinem”, afirma.
No Estado, o crescimento é puxado principalmente por crianças e adolescentes, que formam o público que menos se imunizou contra o coronavírus. O documento da Fiocruz, aliás, conclui: “O cenário de aumento recente de casos de SRAG associados à covid-19, que vem avançando no território nacional, reforça a importância de adesão à campanha de vacinação iniciada no dia 27 de fevereiro, para que o cenário atual não gere impacto significativo em termos de casos graves”.