Reportagem

Curva da nova Ponte do Guaíba põe em risco moradores de vilas no entorno da Arena

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Curva da nova Ponte do Guaíba põe em risco moradores de vilas no entorno da Arena Foto: Nicoly Reis / Jornal Enfoque Porto Alegre

Cerca de 2 mil famílias que vivem entre o 4º Distrito e o estádio do Grêmio vivem com medo de quedas de pneus e cargas, como ocorreu na última sexta-feira

Na última sexta-feira, dia 4 de novembro, a carga de um caminhão que trafegava na nova Ponte do Guaíba caiu próximo ao complexo de vilas do entorno da Arena do Grêmio, em Porto Alegre, onde vivem 2 mil famílias. O bloco compacto de sucata metálica esmagou um carro desocupado, que teve perda total. O acidente ocorreu na área onde crianças das vilas costumam brincar e assustou moradores.  Desde 2014 os moradores da Vila Areia, Tio Zeca e Coobal aguardam remoção para novas moradias, enquanto a nova Ponte do Guaíba avançava sobre as suas casas e os coloca em risco devido à curva acentuada, que fica logo acima das casas.

Segundo lideranças locais, as crianças não foram atingidas pelo bloco porque haviam saído minutos antes do local para beber água. “Elas não têm mais rua para brincar, então brincam ali. A carga de sucata caiu sobre um carro e rolou até o pátio de uma família. (As autoridades) Não vieram sequer para remover a sucata. Os moradores tiveram que fazer mutirão para desobstruir a via pública”, disse ao Matinal a líder comunitária da Coobal, Patrícia Maria Menna Barreto. 

Acidente na ponte do Guaíba. Foto: Reprodução/Vila Coobal

 Janaína Gonçalves da Silveira, liderança da vila Tio Zeca, afirma não ser a primeira vez que da curva da ponte despencaram cargas no terreno, onde os moradores gostam de se reunir para apreciar o fim da tarde: “Dois caminhões já perderam step ali, quase matando uma recicladora. No dia em que caíram as sucatas de ferro, foi uma cena de terror. Estamos apavorados, com medo que passem caminhões carregando toras. Iria matar um monte de gente”, alertou Jana, que pede a interdição desse setor da ponte.

Procurado pelo Matinal, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) não respondeu até o fechamento desta reportagem sobre se há investigações sobre a relação da curva com a queda de cargas sobre as vilas, se há erro de projeto da nova ponte e quais são os planos para resolver a situação de insegurança das famílias.

O alerta sobre a queda de cargas de caminhões sobre o complexo de vilas foi revelado pelas lideranças locais à equipe de reportagem de alunos da Unisinos, que tem um jornal voltado à comunidade da Vila Farrapos chamado Enfoque Porto Alegre

Famílias aguardam remoção desde 2014

O projeto da ponte remonta a 2010, e o cadastramento para a remoção de moradores começou em 2014, com a negociação para realocar as famílias da Ilha Grande dos Marinheiros. O acordo de compra assistida, feito junto ao Dnit, garantia até R$ 158 mil para que cada família se assentasse em um novo endereço. 

Esse mesmo acordo foi feito com a comunidade do entorno da Arena do Grêmio, mas ainda não saiu do papel. Desde então, as famílias aumentaram.“Eram quase 700 cadastros. Mas não secaram a área, não fizeram manutenção para evitar adentramento, e o que mais tem na Coobal é desmembramento familiar. As crianças e adolescentes de 2014 hoje têm suas próprias famílias, alguns têm filhos. Fizeram casinhas nos fundos, ao lado de casas existentes. Calculamos hoje que há 2 mil famílias no quarteirão”, estimou Patrícia Barreto. A líder comunitária também alerta sobre os problemas de transferência. “Não adianta nos levar para um condomínio na divisa com Alvorada. Existe guerra de tráfico lá. Esse sistema (de realocamento) em Porto Alegre é o pior sistema de moradia popular do Brasil, com o maior índice de moradias tomadas pelo tráfico”, denunciou.

Na inauguração da ponte, então incompleta, em 2019, o presidente Jair Bolsonaro prometeu que as famílias estariam todas realocadas dentro de dois anos. A remoção chegou a estar programada para 2020, mas foi adiada devido à pandemia do coronavírus. 

De lá para cá, a população escuta que o Dnit não tem verba para cumprir o acordo. “Ficamos todos à espera de um milagre. Bolsonaro veio e inaugurou uma parte que lhe convinha, onde os caminhões vão para fora, onde trafegam mais”, relatou Jana. “Desde então, o Dnit nunca mais apareceu.” 

“O 4º Distrito não vê que estamos aqui”

A comunidade agora espera a transição do governo para pedir uma audiência junto ao Ministério Público Federal (MPF), “para saber como vai ficar a situação”. Além da remoção e das quedas de cargas, os moradores sofrem com escassez de água e problemas de saneamento. Chuvas fortes alagam um valão e ensopam o bairro com água de esgoto.

“Enfrentamos problemas de esgoto, ratos, lixo, reciclagem. A maior parte dos moradores tira renda de galpões de reciclagem. Tentamos um projeto de educação ambiental junto ao Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU)”, relatou a líder comunitária da Coobal, Patrícia Maria Menna Barreto. “O 4º Distrito não vê que estamos aqui, que precisamos de moradia.”

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