Reportagem

Depósito de veículos da EPTC no Higienópolis é apontado como criadouro de mosquitos da dengue

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Depósito de veículos da EPTC no Higienópolis é apontado como criadouro de mosquitos da dengue Lonas e caçambas, além de veículos sem janelas, tornam-se potenciais focos do mosquito da dengue, dizem moradores | Foto: Grupo de vizinhos do Condomínio Century Square

Num contexto de multiplicação dos casos de dengue em Porto Alegre, com taxa de notificações dez vezes maior do que a registrada na mesma época do ano passado, a situação de um depósito público de veículos desperta preocupação entre os moradores da comunidade vizinha à pista de skate do IAPI, localizada no bairro Higienópolis.

Não se trata, porém, de um problema novo: há dois anos a vizinhança comunica os mais diversos órgãos do município em busca de uma solução para o problema. O terreno pertence à Receita Federal e é utilizado pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) para guardar carros desde 2019. Mesmo antes do crescimento nos casos de dengue, o incômodo vizinho preocupava por outras razões: desde o desabamento dos veículos, já que há um desnível de três metros entre o depósito e a praça, até a segurança, pois moradores alegam que pessoas acessam o terreno para furtar peças de automóveis. 

O depósito fica na rua Dr. Eduardo Chartier e está ao lado da Escola Estadual de Ensino Fundamental Fabíola Pinto Dornelles, que tem cerca de 200 alunos, cujas aulas iniciam na próxima segunda-feira. No fundos da área, ficam dois prédios residenciais que somam cerca de 1500 moradores, de acordo com informações da vizinhança, além da Pista Internacional de Skate IAPI, frequentada por diversas pessoas diariamente.

O limite do terreno onde estão os veículos com a pista de skate é definido por uma fina cerca de arame, moradores reclamam da manutenção precária, com grama alta e lixo. “Temos feito denúncias frequentes”, relata a professora e psicóloga Maria Regina Xausa, que vive na região. Ela já entrou em contato com as secretarias de Saúde, Esporte, Lazer e Juventude, Mobilidade Urbana, e Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade, além do próprio gabinete do prefeito Sebastião Melo (MDB). A Vigilância Sanitária, o Corpo de Bombeiros, a Câmara de Vereadores e a própria EPTC, garante Maria Regina, já estão cientes da situação – ela guarda os e-mails e protocolos de atendimento desde 2022. 

“Para a gente é uma tristeza ver isso, olho da minha janela todos os dias essa situação”, relata ela, que vive no bairro desde 2019. Ela juntou, neste verão, assinaturas de 60 apartamentos de seu condomínio. “A prefeitura fazendo campanha, chega a ser cômico”, referindo-se às ações municipais contra a dengue – enquanto uma área gerida pelo governo da cidade representa perigo para a população do entorno. 

Local é limpo e tem vigilância, afirma EPTC; vizinhos negam

A EPTC diz que o terreno em questão não está irregular – a empresa pública possui um Termo de Permissão de Uso (TPU) da área. O órgão alega que o local é limpo e tem vigilância 24 horas por dia, no qual se depositam veículos temporariamente, por em média 90 dias. São 54 automóveis “inservíveis” recolhidos em situação de sucata ou abandono, retirados das ruas, até que venham a ser leiloados. A prefeitura informa que 45 carros serão retirados já no próximo leilão, previsto para o primeiro trimestre de 2024, quando o pátio será praticamente esvaziado.

“Todos os veículos abertos ou com vidros quebrados estão protegidos por lona e acomodados para melhor preservação e evitar acúmulo de água ou proliferação de mosquitos. E não correm o risco de serem arrastados”, informa a EPTC.

A vizinhança, porém, desdiz as informações da empresa pública. Vizinhos que tiveram acesso ao terreno dizem que dentro dos carros há restos de comida e mesmo plantas crescendo na caçamba de utilitários. “Passam seis meses sem limpeza, só limpam quando aparece na mídia, tenho fotos disso”, conta Maria Regina.

Quanto às precauções para evitar focos do mosquito da dengue, ela diz que as próprias lonas se tornam depósitos de água parada. Também o tempo de permanência dos automóveis é questionado – a moradora relata que foram os mesmos veículos depositados de junho a janeiro:

“Dizem que se trata de uma estrutura temporária, mas está aqui há quatro anos”.

Aedes eclode em cerca de dez dias 

O ciclo de surgimento do mosquito Aedes aegypti dura de sete a dez dias, iniciando com a postura dos ovos em locais propícios à sua eclosão, como bordas de recipientes. Após a chuva, os ovos entram em contato com a água e eclodem rapidamente. A temperatura entre 25 a 30ºC é ideal para o desenvolvimento da larva, enquanto extremos abaixo de 5ºC ou acima de 42ºC são prejudiciais para sua atividade.

Trata-se de um mosquito, caracterizado por suas dimensões diminutas e listras brancas no corpo e nas pernas, conhecido por se alojar principalmente em ambientes urbanos. Com uma vida média de 30 dias, uma fêmea pode depositar até 200 ovos em cada ciclo. Uma vez infectada com o vírus da dengue, a fêmea se torna um vetor permanente da doença. Tem hábito de picar nas primeiras horas da manhã e nas últimas da tarde, preferindo a sombra.
 

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