Reportagem

Diferenças entre medições do Guaíba podem ser explicadas por desníveis do solo

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Diferenças entre medições do Guaíba podem ser explicadas por desníveis do solo Área do Cais Mauá ficou toda inundada desde 3 de maio | Foto: Gustavo Mansur / Palácio Piratini

Em nota publicada no X (antigo Twitter), a MetSul comunicou na manhã desta quinta-feira (23) que não publicará dados do nível do Guaíba medidos pela régua automática emergencial instalada na região da Usina do Gasômetro. Isso porque a água naquele ponto original, no Cais Mauá, estaria abaixo dos valores informados pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema).

Segundo a MetSul, pelas imagens observadas por seus meteorologistas, o nível na estação Cais Mauá estava pouco acima da cota de inundação, em torno dos 3 metros, diferente do que apontava o dado mais recente da estação de monitoramento instalada pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura, com apoio do Serviço Geológico Brasileiro (SGB), na Usina do Gasômetro, que chegou a 3,89 metros na manhã desta quinta. 

Um dos pontos levantados pelo instituto é que, se os dados da Sema estão incorretos, o pico da cheia no Guaíba estaria abaixo dos 5,35 metros anunciados como recorde – e, portanto, teria provocado grandes estragos mesmo distante da cota de inundação, de 6m.

A precisão dos dados já havia sido questionada por medições informais feitas no Cais Mauá. O jornal O Sul notou uma diferença de 70 centímetros em comparação aos dados oficiais. Uma equipe do Correio do Povo mediu o nível com uma trena e teve o mesmo resultado, indicando a possibilidade do Guaíba não ter passado do pico de 5,35m informado pela Sema

Contudo, para o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS, a diferença entre os dois pontos é explicada pela declividade da linha da água na região, que pode ter sido alterada durante a cheia nas últimas semanas. 

O professor Rodrigo Paiva, do IPH, diz que a nova régua foi instalada a aproximadamente 2,5 km ao sul da anterior, quando os pontos estavam no mesmo nível. Mas, após a cheia sem precedentes, a declividade do terreno entre as estações de medição pode ter sido alterada em torno de 15 cm por quilômetro. 

“Isso explica por que poderíamos ter uma diferença agora. A escolha do local foi adequada no momento emergencial considerando as informações disponíveis. O Guaíba normalmente apresenta baixa declividade na maior parte do tempo”, explica o professor.

Fonte: IPH

A estação de medição Catsul Guaíba, localizada na margem oposta às outras réguas, também verifica o avanço da água, porém, Paiva explica que a régua sofre alterações do vento, por isso não seria a mais ideal para medição atual. “Ela está mais no meio do Guaíba, tem mais influência do vento, inclusive se o vento é mais de leste ou oeste vai dar diferença de uma estação para outra”, afirma. 

A régua é utilizada pelos pesquisadores para fazer verificações quando a régua do Cais Mauá apresenta anormalidade. “Nesta madrugada, o nível do Guaíba apresentou um aumento e depois uma diminuição. Achamos estranho e fomos verificar a (régua) Catsul e lá ocorreu o mesmo, possivelmente por conta do vento”, explica o professor. 

De acordo com relatório técnico divulgado pela Sema na quarta-feira (22), o Departamento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental assumiu que o nível da água nos dois locais das réguas era o mesmo, já que não era possível um levantamento topográfico mais adequado. Questionada sobre a diferença no nível do solo, apontada pelo IPH, a Sema não respondeu até o fechamento desta reportagem.

Segundo o IPH, uma possível diferença nas medições do nível do Guaíba não afetaria os resultados e previsões que o instituto têm emitido sobre subida e recuo da água. 

Apagão de dados no início da crise

Implementada em 2014 pela Sema, a estação do Cais Mauá é utilizada como referência para emissão de alerta em situações em que a água atinge 2,55 metros, e quando alcança 3,0 metros, que é considerada a cota de inundação. 

Na noite de 2 de maio, o nível do Guaíba registrou 3,70 metros – última medição da régua que não pode mais ser acessada devido ao grande volume de água na área. Logo no início da manhã do dia 3, foi providenciada a instalação da régua emergencial na região do Gasômetro. Nesse meio tempo, as autoridades ficaram sem saber a velocidade do avanço das águas até o meio da tarde, quando uma medição manual apontou que o nível estava em 4,58m.

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