Feminismo para Homens, das redes para uma newsletter
Uma ideia que surgiu no início da pandemia e que hoje alcança milhares de pessoas no Instagram e no Tiktok. Agora, o Feminismo para Homens prepara-se para dar um novo salto, com uma newsletter semanal, a ser lançada a partir desta semana, seguindo sob a batuta da jornalista Juliana Winge, que já é a responsável pelos conteúdos publicados nas duas redes sociais da iniciativa.
O objetivo na nova plataforma será ampliar o debate, a partir de notícias. “Quero trazer notícias, um pouco mais de dados e analisar”, conta Juliana, que também quer manter o tom mais solto no diálogo com o público, além de disponibilizar sugestões de livros e um glossário sobre feminismo. A newsletter pode ser assinada gratuitamente neste link.
Este tom mais leve, que volta e meia conta com algum sarcasmo e ironia, sobre um assunto que não raro desperta discussões mais ríspidas, foi o que contribuiu para o crescimento das contas do Feminismo para Homens – o Instagram tem 2,2 mil seguidores, enquanto o TikTok, 8,7 mil. “Uso da ironia e do humor porque assim a gente quebra muitas barreiras”, comenta Juliana, que atribui à linguagem o fato de alguns dos posts terem viralizado.
“Existe a linha radical (de defesa do feminismo) e entendo sua importância, mas acho que dialogando se pode ir mais longe. Ainda que tenha dia que eu não consiga dialogar também”, comenta a jornalista, que vê o alcance e a repercussão dos posts como “pequenos passos” rumo a uma sociedade mais igualitária – que ela acha que ainda vai demorar para se concretizar.
A recepção ao conteúdo, via de regra, é positiva: “É muito legal ver que estamos plantando sementes. Tem muito terreno fértil, pessoas que estão dispostas a repensar ou mesmo pensar sobre estas questões, mas não sabem por onde começar”, diz ela, que garante já ter recebido diversos retornos positivos em suas plataformas. “E isso me motiva muito.”
Mas, claro, nem todos os dias são fáceis. “Não raro tem assuntos pesados, como casos de feminicídio e violência contra a mulher”. Tanto o crime de feminicídio quanto o de lesão corporal contra mulher cresceram no RS ao longo do primeiro semestre de 2022. “Teve períodos que eu precisei parar um pouco.”
“Um dia vi que era machismo estrutural”
Mãe de uma adolescente de 14 anos, Juliana admite que ela mesmo mudou sua visão sobre o feminismo nos últimos anos: “Eu fui mãe no final da faculdade, minha experiência no mercado de trabalho foi quase sempre afetada pela maternidade. Vi que algumas coisas que eu deixava passar e mesmo ‘passei pano’ de vez em quando, mas era machismo estrutural”, recorda. “Pouco a pouco, as coisas foram encaixando e num dia acendeu aquela luzinha.”
O impulso mesmo ocorreu numa situação em que chegava a um shopping de mãos coma filha, já pequena. Nisso, recebeu um “elogio” não solicitado de um desconhecido qualquer. Foi uma espécie de “gota d’água” que a fez responder, indignada, em frente à criança. “Esse dia foi muito emblemático. Foi uma coisa que passou muito do limite”, relembra ela, que decidiu explicar para a filha o que tinha se passado: “Eu não quero que ela passe por isso. Eu precisei me educar e me letrar com relação a isso.”