Lixões temporários em Porto Alegre não têm previsão de fechar
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Depois do choque com as ruas inundadas, os porto-alegrenses agora convivem com grandes volumes de lixo empilhados pela cidade. Chamados de “bota-espera”, quatro lixões temporários acumulam entulhos da enchente em diferentes regiões de Porto Alegre. Dois deles estão no Centro Histórico: um na Av. Loureiro da Silva, próximo à sede da Superintendência Regional da Receita Federal, e outro em um terreno do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) na rótula da Av. João Goulart, ao lado da Praça Júlio Mesquita.
A autarquia informa que o ponto instalado no Dmae já está “encerrando operação” – quando a reportagem da Matinal visitou o local na quinta-feira (6), ainda havia pilhas de entulho. Ali fica a Estação de Bombeamento de Esgoto Ponta da Cadeia, e o bota-espera fica a cerca de 75 metros da Escola Municipal de Ensino Fundamental Porto Alegre (EPA), instituição temporariamente fechada, que acolhe pessoas em situação de vulnerabilidade e foi gravemente afetada pela enchente. Há prédios residenciais a uma distância de 50 metros.
No caso do lixão do terreno municipal próximo à Receita, o DMLU informa que a estrutura seguirá operando. O bota-espera está a 250 metros da Escola Técnica Estadual Parobé, que teve suas atividades suspensas por conta da enchente, e de prédios públicos como a sede local do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, ao Serviço Federal de Processamento de Dados, e a edifícios do poder judiciário, na área ocupada até 2011 pela Vila Chocolatão.
Há mais três lixões temporários em atividade: um na Av. da Serraria, na altura do bairro Espírito Santo, e outros dois na rua Voluntários da Pátria, um no Humaitá e outro no São Geraldo.
Segundo o diretor-geral do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), Carlos Alberto Hundertmarker, desde o dia 6 de junho – quando a operação dos “bota-espera” começou – já foram recolhidos 42 mil toneladas de resíduos, coletados por caminhões de menor porte que circulam pelas principais ruas da cidade e também dos bairros alagados.
“Não tenho nenhuma previsão de encerramento da força-tarefa porque muitas áreas ainda estão alagadas, como a zona norte de Porto Alegre e a região das Ilhas, temos muita água ainda”, afirma Hundertmarker.
As estruturas são instaladas em áreas próximas às regiões inundadas. Depois de recolhidos, os resíduos serão direcionados para o aterro de inertes em Gravataí. Cerca de 800 garis atuam na limpeza, com 350 equipamentos entre caminhões e retroescavadeiras. Os serviços são coordenados pela Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Smsurb).
Questionado pela reportagem sobre eventuais riscos pelo acúmulo de lixo em ambientes próximos a residências e grandes circulação de pessoas, o diretor afirmou que os locais não representam perigo ambiental e que os resíduos envoltos em lodo e lama que estão nos “bota-espera” são os mesmos que estavam dentro das residências e logo depois foram para as calçadas. “Não existe nenhuma diferença do objeto contaminado que está saindo de dentro de casa, dos objetos que já estão na rua e o DMLU está recolhendo, dos resíduos de onde eles estão sendo armazenados de forma provisória”, afirmou.
MPF e MP-RS alertam para risco
A instalação de uma dessas estruturas no Complexo Cultural do Porto Seco gerou incômodo na comunidade. A região é aventada como possível “cidade provisória” para acolher famílias desabrigadas. Na quarta-feira, o Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) visitaram a área onde devem ser montadas as barracas para 10 mil desabrigados.
De acordo com o procurador regional dos Direitos do Cidadão, Enrico Rodrigues de Freitas, a situação é grave, pois pode colocar em risco a saúde das pessoas que sejam instaladas no local, entre outras questões. À Matinal, o DMLU informou que o “bota-espera” perto do sambódromo já está em fase de encerramento, com previsão de conclusão da limpeza da área até o dia 9 de junho.
O mandato do vereador Jonas Reis (PT) fez uma representação ao Ministério Público (MP), solicitando uma autuação à prefeitura. “É inaceitável que, sem licenciamento sanitário, tenhamos lixões a céu aberto em zonas habitadas, zonas nas quais circulam muitas pessoas, trabalham muitas pessoas. Tornou o espaço público insalubre, sem nenhum tipo de manta de proteção no solo, misturando lixo orgânico que as pessoas dispensaram junto, com dejetos da enchente que também estão contaminados”, disse o legislador à Matinal.
“Nossa preocupação é enorme porque sabemos que as zonas adensadas da cidade possuem grande concentração de roedores, que são vetores de doenças, infelizmente, e também de insetos. Basta ir nesses lixões que caracterizo como clandestinos”, justificou.
À Matinal, o diretor do DMLU afirmou que os locais possuem autorização da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), sem necessidade de ter autorização da Vigilância Sanitária.
“Não cometemos nenhum crime ambiental. Nossa preocupação é que esses resíduos sejam também recicláveis, para voltarem de uma forma segura para a vida”, explica Carlos Alberto.
De acordo com o órgão municipal, o aterro São Judas Tadeu, de Gravataí, que vem recebendo os resíduos, faz a separação e reciclagem dos itens – as madeiras danificadas pela enchente podem ser utilizadas como biomassa para queima em caldeiras e fornos, por exemplo.