Banner bolsonarista vai ser retirado da entrada de Porto Alegre
Após denúncias de vereadores, o MP-RS pediu à Justiça Eleitoral para que o anúncio apócrifo fosse retirado. Mas dono da empresa disse que remoção será feita após pedido de moradores do prédio, localizado próximo ao Túnel da Conceição
Exibido na quinta-feira em um prédio na Avenida Osvaldo Aranha, na entrada do Túnel da Conceição (sentido bairro-Centro), o painel apócrifo que associa comunismo ao PCC e a bandido solto será removido após pressão de moradores. Leonardo Zigon Hoffmann, o CEO da Life, empresa que instalou o banner na empena cega, confirmou que o anunciante concordou na remoção porque estaria satisfeito. “(O cliente) disse que a repercussão que pretendia em 30 dias de exibição já foi superada em um dia, pela repercussão de quem não gostou”, relatou ao Matinal.
O Ministério Público também solicitou a retirada do banner à 113º zona eleitoral da Justiça Eleitoral após denúncia do vereador Leonel Radde (PT). Na manhã desta segunda-feira, dia 15 de agosto, o MP cumpriu um mandado de averiguação na Life pedindo cópia dos contratos, os nomes das pessoas que contrataram e as notas fiscais dos pagamentos dos serviços. “O MP-RS recebeu as respostas aos questionamentos e os encaminhou à Justiça Eleitoral com pedido para a retirada dos materiais”, informou a assessoria do órgão. A decisão da Justiça ainda é aguardada.
O banner de 22 metros de altura por 9m de largura exibe a frase “Você decide” e logo abaixo traz a bandeira do Brasil ao lado da foice e o martelo, símbolo comunista. A seguir, opõe o que seria um governo “patriota”, listando ideias bolsonaristas, como “vida”, “povo armado”, “agro forte”, “a favor da polícia”, “liberdade”, do que seria as de um governo comunista, como “aborto”, “MST”, “povo desarmado”, “censura” etc. O banner não faz referência ao presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), mas convoca ao final da faixa que o povo participe das comemorações dos 200 anos da Independência, em 7 de setembro.
Na denúncia ao MP, Radde classificou o outdoor como propaganda irregular e fake news, por ferir os termos da Lei Eleitoral 9.504 e Resoluções 23.607 e 23.610 do TSE. Segundo o vereador, “diversos Tribunais Eleitorais Regionais já possuem julgados no sentido da proibição desse tipo de outdoors na cidade, por caracterizarem, no seu entendimento ‘autopromoção e alavanque de campanha por meio de propaganda cuja utilização é vedada por Lei’, visto que tais artifícios ‘criam na opinião pública um estado mental de repulsa às candidaturas de esquerda’”. O MP não divulgou cópia do pedido feito à Justiça Eleitoral. O artigo 40 da Lei 9.504 diz que “é proibido, na propaganda eleitoral, o uso de símbolos, frases ou imagens associados ou semelhantes aos empregados por órgão de governo, empresa pública ou sociedade de economia mista”.
Leonardo Hoffmann, CEO da Life, afirmou que colaborou com os pedidos feitos para o MP, mas disse que o outdoor será removido assim que o tempo melhorar na Capital, independentemente da decisão judicial. “Desde ontem (domingo) está contratado o serviço do alpinista para retirar. Ele aguarda parar de chover para cumprir isso com a segurança necessária”, informou por WhatsApp desde Lisboa, em Portugal. Perguntado sobre se checou se o conteúdo feria leis eleitorais, ele respondeu que o anúncio foi ajustado antes de ser veiculado para não trazer riscos. “Nossa responsabilidade, como veículo de comunicação, na divulgação de materiais publicitários de anunciantes, como neste caso, é cuidar para o não descumprimento normas e legislação. No nosso entendimento e no de quem nos assessora, o que precisava ser adequado, foi (adequado).” O empresário não sabia que o MP pediu a retirada do banner.
Hoffmann frisou que a peça é um anúncio publicitário, e não um conteúdo editorial. À Folha de S.Paulo, ele havia afirmado que retirou, da versão original, o bordão “Já ir”, por enxergar alusão direta ao candidato Jair Bolsonaro (PL). “Nem (é) a opinião da nossa empresa. Todos veículos de comunicação exibem conteúdos publicitários que agradam ou desagradam pessoas”, garantiu. Para rebater o argumento de que seria apoiador do anúncio, citou outro veiculado pela Life, em fevereiro e março, pago pela Assufrgs, que culpava Bolsonaro pela inflação.
Pai de CEO da Life cobriu protestos contra a ditadura
O CEO da Life é filho de Assis Hoffmann, fotojornalista gaúcho que iniciou carreira na Última Hora e marcou época com imagens de protestos contra a ditadura militar e os comícios das Diretas Já. Questionado sobre se via como uma contradição veicular um anúncio que aciona o medo do comunismo que embasou o apoio ao golpe militar e à ditadura de 21 anos que agrediu seu pai durante uma cobertura, ele respondeu que “não”.
“O Assis era um árduo defensor da liberdade e da democracia, da liberdade de expressão. Uma publicação dessas ou igual a que exibimos em fevereiro que dizia ‘Bozo a culpa é tua!’ só é possível numa sociedade que existe liberdade de expressão. Num governo que pratique o controle da mídia, isso não seria – ou não será!? – possível”, disse. “Será que uma dessas duas telas poderia ser exibida em Cuba? Ou na Venezuela?”, questionou.
No comunicado da Life após a controvérsia gerada pelo anúncio anti-esquerdista, veiculado no Instagram, a empresa diz que a “responsabilidade dos anúncios é dos anunciantes que contrataram” e que “conviver com a simpatia ou rejeição a estas faz parte da liberdade que deve prevalecer”.
No final, escreveu: “Deus abençoe a todos”.