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Novo pedido de destituição da Reitoria da UFRGS aponta alinhamento com extrema direita

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Novo pedido de destituição da Reitoria da UFRGS aponta alinhamento com extrema direita Carlos Bulhões, reitor da UFRGS, e a vice, Patrícia Pranke, foram nomeados por Bolsonaro em 2020 | Foto: Daniel Martins/Divulgação

Trata-se do segundo episódio do tipo que Carlos Bulhões e Patrícia Pranke enfrentam em dois anos; processo deve começar a tramitar neste mês

Um novo pedido de destituição da reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) deve começar a tramitar no Conselho Universitário (Consun) a partir deste mês. A requisição pela saída do reitor Carlos Bulhões e da vice Patricia Pranke é assinada por um grupo de 39 professores da instituição e foi protocolada em março.

Trata-se de um segundo pedido de destituição da chapa. Em agosto de 2021, a dupla já havia sido alvo de uma resolução semelhante aprovada pelo próprio Consun. No entanto, o Ministério da Educação (MEC), que tem a palavra final no caso, arquivou o pedido. Na ocasião, o reitor foi acusado de promover reformas administrativas sem a autorização do Consun.

Exposta em um documento de 28 páginas, a nova argumentação aponta desde falhas administrativas até alinhamento com a extrema direita. Neste trecho, está citada uma fala do deputado federal Bibo Nunes (PL), apontado como articulador da nomeação de Bulhões: “Será uma alegria acabar com este domínio esquerdopata que se encostou ali há quase 40 anos”.

O negacionismo da ciência, a falta de transparência e falhas administrativas na relação com as unidades administrativas também são mencionadas, assim como a falta de relação entre reitor e vice-reitora. Em maio de 2022, Patrícia Pranke entrou na justiça para que Bulhões a autorizasse a participar de reuniões da diretoria e participação em processos internos. Ao jornal Zero Hora, ela falou que “a conduta do reitor busca afastar a transparência”.

Bulhões e Pranke foram nomeados em 2020. Eles compunham a chapa que ficou em terceiro lugar na última eleição interna da UFRGS. Entretanto, foram escolhidos pelo então presidente Jair Bolsonaro, que tinha a prerrogativa de definir a nova reitoria a despeito da preferência da comunidade universitária. Tradicionalmente, contudo, o resultado interno costuma ser respeitado pela presidência. Críticos da reitoria definem Bulhões como “interventor” por conta disso.

“Baixíssima legitimidade”

Professor na Escola de Administração da UFRGS e um dos signatários do novo pedido, Pedro Costa afirma que a solicitação se dá pelo “conjunto da obra” de Bulhões à frente da UFRGS. “A gestão está muito fraca. Não tem planejamento e um grau baixíssimo de legitimidade”, definiu. “Não conseguiu construir uma articulação com o Consun e com a direção das unidades, que estão trabalhando um pouco no escuro”, acrescentou.

Para Costa, outro fator que pesa contra a gestão Bulhões foi a postura negacionista durante o auge da pandemia, em contraposição às diretrizes do comitê responsável pelo plano de contingenciamento da universidade. Um dos exemplos citados no pedido de destituição é a exigência de comprovante vacinal para o retorno da comunidade universitária às atividades presenciais, decisão não respeitada pela reitoria. O professor cita ainda a pouca ação diante dos cortes de recursos promovidos no governo Bolsonaro e as raras aparições no cotidiano acadêmico: “O reitor sumiu do mapa. Ele já não preside mais o Consun. É uma inércia total”.

O Matinal tentou contato com a reitoria da UFRGS, mas não recebeu retorno.

Bulhões tem mandato por mais um ano e meio 

Se o Consun acolher o pedido de destituição, uma comissão especial será formada para estudar o processo, que não foi levado ao plenário do colegiado na última reunião ordinária, em 24 de março. Esse trabalho deve durar entre três e seis meses. Caso seja aprovado, o novo pedido de destituição será enviado ao MEC, que vai analisar o caso e definir pela saída ou permanência de Bulhões e Pranke.

Em uma eventual destituição, o MEC deverá nomear um reitor pro-tempore, que terá 60 dias para convocar nova eleição. O nome será levado ao presidente Lula (PT) que nomeará o reitor pelos próximos quatro anos. O atual mandato de Bulhões vai até setembro de 2024.

A reportagem do Matinal solicitou ao MEC uma manifestação a respeito do processo de destituição, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.

Consun é o órgão máximo da UFRGS 

Com o plenário formado por 77 integrantes titulares e respectivos suplentes e presidido pelo reitor da UFRGS, o Consun é reconhecido pelo regimento geral como o órgão máximo da UFRGS. O grupo se reúne mensalmente para tratar de diferentes assuntos relacionados à universidade.


Tiago Medina é editor-executivo da Matinal News.
Contato: [email protected]

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