Em visita à periferia, Melo cobra apoio de empresários e promete praça construída pelo grupo Zaffari
Em caravana, prefeito tenta mobilizar iniciativa privada a deslocar contrapartidas de empreendimentos da área central para a periferia de Porto Alegre; secretário e diretor do Zaffari não garantem viabilidade da obra
A Prefeitura de Porto Alegre quer dinheiro do empresariado na periferia da cidade. A intenção foi anunciada pelo prefeito Sebastião Melo (MDB) na última sexta-feira, dia 20 de maio, em uma caravana que contou com a participação da imprensa, sindicatos patronais e empresários. No percurso, Melo disse estar mostrando a “vida real” da Capital e também afirmou que o grupo Zaffari bancaria uma praça na comunidade Recanto do Sabiá, localizada no bairro Mário Quintana – promessa que pegou integrantes da delegação de surpresa.
O evento foi promovido pelo Paço Municipal com o objetivo de sensibilizar empresários da necessidade de se investir não só na zona central da cidade. Parte do secretariado municipal e quatro vereadores da base aliada do governo também integraram a comitiva.
A ideia de Melo é que uma parcela das contrapartidas dos empreendimentos imobiliários licenciados pela Prefeitura sejam destinadas a obras na periferia. “Às vezes o empreendimento só quer contrapartida no entorno dele. O meu apelo aos empresários é que dividam isso um pouco lá (nas zonas centrais) e um pouco aqui”, explicou o prefeito.
Na primeira parte do trajeto, em visita à comunidade Recanto do Sabiá, localizada em uma zona de risco próxima à divisa entre Porto Alegre e Alvorada, Melo prometeu que o grupo Zaffari construiria uma praça para os moradores. “A máquina pública faliu e a lei 8.666 (de licitações) é ‘trancativa’, então o sentido de dar uma praça para o empresário fazer é que ele vai fazer mais rápido do que nós”, disse Melo ao Matinal.
Na ocasião, o líder comunitário Paulo Sérgio Monteiro, presidente da Associação dos Moradores do Recanto do Sabiá (ACARS), apontou que mais de 1 mil famílias vivem na comunidade, que também carece de linhas de ônibus e de um posto de saúde. “A maior demanda aqui é saneamento básico, que não temos aqui. Hoje a iluminação pública está se organizando para se formalizar, mas ainda temos dificuldades em relação a uma área de lazer”, lamentou Monteiro. “O espaço é muito grande e não temos nenhuma.”
“Pede a praça para eles (os empresários)”, interrompeu o prefeito, e o líder comunitário o fez, mas listou outras demandas: “Está feito então o pedido da praça. E da possibilidade de um centro de reciclagem para qualificação profissional e dar dignidade para o pessoal poder se manter”, acrescentou. Em seguida, Melo indicou que a praça seria construída pelo grupo Zaffari, que estava representado na caravana por Claudio Zaffari, diretor-superintendente do grupo.
Praça é promessa, mas ainda não está garantida
Como justificativa do pedido aos empresários, Melo reclamou que o poder público é demorado e que, para projetos serem implementados com rapidez, a iniciativa privada teria a capacidade de realizar obras sem as amarras de processos licitatórios.
Ao Matinal, no entanto, Claudio Zaffari disse que precisaria analisar a possibilidade da construção da praça, já que não sabe de onde essa contrapartida poderia vir. “Não sei nem de qual projeto (essa contrapartida) vai sair, mas vamos tentar olhar, ver o que tem nos nossos projetos, se é possível deslocar, qual a verba, tem que trabalhar e pensar um pouquinho, se não a gente fica achando a solução muito amadoramente”, disse o empresário.
“A primeira coisa é definir o que a gente quer. Ok, querem uma praça, mas onde vai ser? Qual a área? Qual o projeto da praça? Quanto custa? Tem orçamento? Aí chegamos em alguma coisa, se não vamos ficar nos enganando e enganando as pessoas, o que não é positivo”, listou Zaffari.
O anúncio da praça também pegou o advogado Germano Bremm, secretário de Meio-Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade – a pasta responsável pelo licenciamento urbano – de surpresa. Após o anúncio de Melo, Bremm e Zaffari conversaram longamente, e a promessa é de que a praça poderá ser contemplada quando algum novo empreendimento da empresa entrar em licenciamento no município, já que os atuais já tiveram suas obrigações definidas. Um levantamento do blog Minuto Varejo, do Jornal do Comércio, indicou que o grupo Zaffari tinha, em abril, 10 empreendimentos em obras na Capital.
“É um processo que teremos de avaliar e ver como podemos construir. Essas regiões afastadas têm problemas com regularização, matrícula e uma complexidade maior de se realizar o gasto público porque somos controlados por Ministério Público e Tribunal de Contas, e temos de seguir os ditames da lei. Mas houve esse indicativo (da praça) e a gente vai tentar, na medida do possível, construir essa área de lazer”, disse Bremm ao Matinal.
Sindicatos patronais buscam mão de obra
Além do grupo Zaffari, sindicatos patronais que participaram da caravana também acenaram com ideias de projetos para melhorar as condições de vida nas áreas visitadas. O Sindha, Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre, indicou que pretende atuar na formação profissional dos jovens dessas comunidades.
“Um dos pilares de nosso sindicato é a mão de obra. Hoje temos carência de mão de obra especializada para hotelaria, gastronomia, chapista, auxiliar de cozinha, garçom, barista… A ideia é passar conhecimento, dar oportunidade de emprego e automaticamente tirar os jovens das ruas”, explicou o empresário Sandro Zanetti, presidente do Sindha.
Além da comunidade Recanto do Sabiá, a 1ª Caravana Mais Comunidade também visitou a comunidade João Goulart, uma ocupação também localizada no bairro Mário Quintana.