Reportagem

Primeiro edital após reforma do Teatro Túlio Piva não contempla artes cênicas

Change Size Text
Primeiro edital após reforma do Teatro Túlio Piva não contempla artes cênicas Foto: Gregório Mascarenhas/Matinal

Depois de dez anos com o espaço fechado, artistas cobram “ocupação justa”

Tradicionalmente um espaço destinado às artes cênicas, o Teatro de Câmara Túlio Piva, na Cidade Baixa, vai reabrir sem datas para propostas de peças teatrais. A cerca de um mês para a aguardada reabertura, depois de 10 anos do espaço fechado, a prefeitura publicou um edital que deixa de fora produtores locais de espetáculos cênicos. O documento contempla apenas eventos musicais para as datas que estão sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (SMCEC). A notícia levou profissionais das outras artes a emitirem um manifesto “pela ocupação justa” das datas no local. 

Além do teatro, não foram contemplados espetáculos de dança e circo neste certame destinado à programação do primeiro semestre deste ano. Para o Sindicato de Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Rio Grande do Sul, o edital lançado na quinta-feira (22) “compromete a preservação desta pluralidade porque só contempla a música”, conforme publicação em suas redes sociais, na segunda-feira (26).

O Túlio Piva recebe os retoques finais da reforma conduzida pela Opinião Produtora, em uma obra que foi parte do contrato de concessão do Anfiteatro Araújo Vianna. Depois de reaberto, será gerido pela mesma empresa privada, tradicionalmente vinculada à música, mas terá 50% de suas datas sob responsabilidade da SMCEC. O calendário organizado pela prefeitura é o alvo do protesto dos profissionais das artes cênicas. 

De acordo com a entidade que representa a categoria, o Túlio Piva é um espaço “historicamente plural” para o teatro, a dança e o circo, de modo que deveria continuar ocupado com a mesma abrangência de linguagens artísticas. “Uma parceria público-privada não pode subtrair dezenas de anos de arte e cultura voltados para as artes cênicas”, diz a publicação, assinada por 160 artistas porto-alegrenses até o fechamento desta reportagem. 

A exclusividade para espetáculos musicais “surpreendeu todo mundo”, conforme relatou a autora, diretora e atriz Juliana Barros à Matinal. Ela define que o Túlio Piva – que costuma ser chamado pela comunidade local das artes cênicas de “teatro de câmara” apenas – sempre foi “absolutamente ativo na programação teatral da cidade”, e que seus pares não entendem a razão de não haver um edital para suas expressões artísticas já para os primeiros meses da reabertura da casa. 

Juliana ressalta que a impossibilidade de promover espetáculos durante o fechamento do teatro, na última década, representou a diminuição de um terço dos espaços públicos para apresentações em Porto Alegre. Junto com a Sala Álvaro Moreyra e o Teatro Renascença, o Túlio Piva forma o tripé dos espaços públicos viáveis para a apresentação de peças locais na cidade.

Para a diretora, o teatro de câmara tem uma “vocação muito grande para apresentações infantis”, por seu tamanho apropriado para espetáculos locais, com cerca de 200 lugares. “Dentro do circuito porto-alegrense de artes cênicas, todos que trabalharam nos 90 e no início dos anos 2000 passaram por lá, então estávamos todos ansiosos pela reabertura, pois estávamos muito carentes de espaços. Recebemos essa notícia com choque e indignação”, afirma a atriz.

Prefeitura promete novo edital, mas não informa data  

O edital para ocupação das datas por espetáculos musicais divide o semestre em três “temporadas”, nos meses de abril, maio e junho. A SMCEC diz que lançará, ainda na primeira metade do ano, uma concorrência para as artes cênicas, mas não deu mais detalhes. Também justificou  que a escolha pela música para o primeiro certame é uma homenagem ao compositor gaúcho que dá nome à casa, e a “um pedido da classe artística”, conforme informou a pasta à Matinal

A assessoria de imprensa da pasta afirmou ainda que o primeiro semestre “terá peças de teatro como parte das comemorações”, mas não detalhou a programação. 

Segundo o edital de música, no mês de maio por exemplo, está à disposição dos proponentes o período de 1º a 15 de maio, sendo que 20% dessas datas estão reservados para eventos já programados pela prefeitura – mas que não foram divulgados ainda. A segunda metade do mês será ocupada pela Opinião Produtora.

Sucessão de atrasos na reinauguração

O espaço está fechado desde 2014, por problemas estruturais. Em 2012, uma peça do Porto Alegre em Cena precisou ser interrompida quando o forro do prédio desabou com a chuva.

A Opinião Produtora, em maio do ano passado, chegou a divulgar que a casa reabriria até setembro daquele ano – e a previsão anterior era ainda para o final de 2022. A obra é fruto de uma parceria público-privada com a prefeitura, com contrato firmado em 2019 e oficializado em janeiro de 2020. As obras começaram em 2020, mas foram interrompidas devido à pandemia, sendo retomadas em 2022. 

De acordo com o contrato, a prefeitura tem prioridade em 50% das datas no Teatro Túlio Piva e pode utilizar o Araújo Vianna por 30 dias ao ano. Inaugurado em 1970 e rebatizado como Túlio Piva em 1999, foi o primeiro espaço cultural desse tipo sob administração municipal. Originalmente, estava previsto para funcionar por apenas cinco anos, pois o Plano Diretor de Porto Alegre planejava a construção de uma avenida no local. A última reforma no teatro havia ocorrido em 2006.


Fale com o repórter: [email protected]

Gostou desta reportagem? Garanta que outros assuntos importantes para o interesse público da nossa cidade sejam abordados: apoie-nos financeiramente!

O que nos permite produzir reportagens investigativas e de denúncia, cumprindo nosso papel de fiscalizar o poder, é a nossa independência editorial.

Essa independência só existe porque somos financiados majoritariamente por leitoras e leitores que nos apoiam financeiramente.

Quem nos apoia também recebe todo o nosso conteúdo exclusivo: a versão completa da Matinal News, de segunda a sexta, e as newsletters do Juremir Machado, às terças, do Roger Lerina, às quintas, e da revista Parêntese, aos sábados.

Apoie-nos! O investimento equivale ao valor de dois cafés por mês.
Se você já nos apoia, agradecemos por fazer parte da rede Matinal! e tenha acesso a todo o nosso conteúdo.

Compartilhe esta reportagem em suas redes sociais!
Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email
Se você já nos apoia, agradecemos por fazer parte da rede Matinal! e tenha acesso a todo o nosso conteúdo.

Compartilhe esta reportagem em suas redes sociais!
Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email

Gostou desta reportagem? Ela é possível graças a sua assinatura.

O dinheiro investido por nossos assinantes premium é o que garante que possamos fazer um jornalismo independente de qualidade e relevância para a sociedade e para a democracia. Você pode contribuir ainda mais com um apoio extra ou compartilhando este conteúdo nas suas redes sociais.
Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email

Se você já é assinante, obrigada por estar conosco no Grupo Matinal Jornalismo! Faça login e tenha acesso a todos os nossos conteúdos.

Compartilhe esta reportagem em suas redes sociais!

Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email
RELACIONADAS
;

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.