Sem evidências, presidente da Câmara desacredita dados do Censo
Ao contrário do que mostrou o Censo, Hamilton Sossmeier disse que a capital não encolheu. “Pela prática de andar nos bairros e nas vilas, a gente vê que Porto Alegre cresceu”, disse ao Matinal
O presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Hamilton Sossmeier (PTB), revelou estranhamento com os dados do Centro 2022, que indicaram que a Capital perdeu pouco mais de 76 mil habitantes desde 2010. Os dados, coletados pelo IBGE e divulgados em junho, são utilizados para a definição de políticas públicas.
“Sei que o Censo vale em nível federal, mas tenho muita dúvida com relação aos números do Censo”, disse o vereador, nesta quinta-feira, sem apresentar evidências. Ele justificou sua afirmação em uma “impressão pelo seu andar na cidade”, conforme descreveu: “Porto Alegre, na nossa ótica, pela prática de andar dos bairros e nas vilas, a gente vê que o Porto Alegre cresceu”. Segundo o IBGE, a capital gaúcha tinha ano passado 1.332.570 habitantes, total inferior aos últimos dois Censos – em 2010 eram 1.409.350 e, em 2000, eram 1.360.590.
O declínio populacional não foi exclusividade de Porto Alegre. Outras oito capitais de estado, incluindo Rio de Janeiro e Salvador, tiveram movimento semelhante. Porto Alegre, contudo, foi a única das localizadas no Sul do país a ter esse movimento. Além disso, a queda foi a quarta maior, proporcionalmente, entre as capitais.
Em sentido oposto, o número de imóveis vagos não só cresceu na cidade, como mais que dobrou, passando de 48 mil para 101 mil em 12 anos. Só que, ao contrário do argumentado pelo prefeito Sebastião Melo (MDB), que em entrevista ao Matinal no mês de maio disse acreditar que a questão da habitação seria algo que acabaria regulada pelo mercado, o presidente da Câmara não compartilha desta ideia: “Vejo com muita dificuldade que a questão imobiliária consiga regular isso”.
No entanto, a iniciativa anunciada pelo Executivo de fomentar o retorno de moradores ao Centro é comungada pelo líder do Legislativo. “A ideia nossa, principalmente dentro do Plano Diretor, é fazer com que Porto Alegre volte para o Centro porque a cidade migrou muito para os bairros”, afirmou ele. Sossmeier reiterou sua vontade de votar a revisão do Plano Diretor ainda neste ano, mas explicou que, para isso ocorrer, as propostas devem ser enviadas pela Prefeitura até outubro.
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, que trata do assunto, informou que trabalha para enviar o projeto “até o fim do ano”, mas evita confirmar um prazo específico. No próximo dia 22 de julho, a pasta realiza o último seminário da etapa de leitura da cidade. Só a partir de então que ocorrerá a construção de propostas que serão enviadas, analisadas e votadas pelos vereadores.
Sossmeier citou que considera a discussão do Plano Diretor “muito complexa” e previu que os vereadores irão fazer um “debate ideológico” se o texto ficar para o ano que vem, por conta da proximidade das eleições municipais. Ainda assim, a Câmara até agora não deu início aos trabalhos da própria comissão a respeito do Plano, apesar de ela ter sido oficializada há quase dois meses, após ter sido ampliada para que todos os partidos pudessem participar. De acordo com o presidente da Câmara, a decisão de não instalá-la é dos líderes, que preferem esperar o Executivo.
Outra questão a ser enfrentada é a que envolve regimes urbanísticos específicos para áreas da cidade, casos do Centro e do 4º Distrito. Conforme ele, ambos terão de ser enquadrados às normativas do Plano Diretor. Este trabalho será feito, segundo o vereador, pelas sete subcomissões da comissão especial do Plano Diretor.