Reportagem

Para zerar emissões de carbono até 2050, Porto Alegre terá que mudar o sistema de transporte

Change Size Text
Para zerar emissões de carbono até 2050, Porto Alegre terá que mudar o sistema de transporte Mudança no sistema de transporte é caminho para zerar emissão de gases poluentes, afirmam palestrantes do South Summit, em painel no primeiro dia do evento. Foto: Luan Furtado/PMPA

Dois terços dos gases poluentes vêm dos veículos. Tema foi debatido em painel no primeiro dia do South Summit

Porto Alegre se comprometeu a zerar as emissões de carbono na atmosfera até 2050. Até 2030 terá que reduzir pelo menos à metade. A solução precisa passar necessariamente pelo sistema de transporte, responsável por 67% da poluição. 

O diagnóstico apresentado ontem pelo secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Germano Bremm, mostra que são urgentes novas ações do poder público e mudança de mentalidade da iniciativa privada. Ele participou do painel “Soluções Inovadoras para Cidades Alcançarem Net-Zero e Resiliência” no primeiro dia de South Summit.

Na sexta-feira, dia 31, a prefeitura deve anunciar um recurso obtido com o Banco Mundial para fazer um plano de ação climática. Sem dar detalhes do projeto, Bremm antecipou que o assunto passa pelo novo Plano Diretor da cidade. “A mudança climática tem que ser trazida para o ambiente do planejamento urbano. Incentivos, formas e ferramentas para que, depois, a cidade vá sendo construída e essas ações sejam priorizadas”, disse.

Entre as micro-ações que a Capital já experimentou estão o estímulo à construção de rooftops (terraços) e outras ações sustentáveis em novas edificações, como painel solar e sistema de reaproveitamento da água da chuva, para que o empreendedor possa construir além do limite máximo permitido. Bremm também cita a instalação de biogestores e placas fotovoltaicas em duas escolas municipais localizadas no bairro São José, que geraram uma redução de R$ 2 mil para R$ 200 na conta de energia. As instituições foram contempladas pelo projeto do Action Fund Brazil, do Google.org.

Mas nenhuma será suficiente sem macro-ações, conforme aponta Guilherme Johnston, chefe da Connected Places Catapult, a agência de inovação do governo do Reino Unido para cidades, transporte e liderança local. Ele conta que Porto Alegre entrou em um programa junto a Santiago, no Chile, como observadora, para analisar a resiliência da cidade em relação às mudanças climáticas. O primeiro passo foi identificar os desafios, mas, em seguida, a Capital pode receber ações práticas, como a instalação de sensores para medir a qualidade do ar em algum parque ou a vinda de empresas para dimensionar a biodiversidade. 

Johnston indica um caminho para redução nas emissões de carbono em Porto Alegre que também passa pela mobilidade. “O primeiro é mudar a mentalidade, dificultar a entrada de carros no centro da cidade. Londres tem zonas em que você não pode entrar se não tem um tipo de veículo. No Reino Unido, tem cidades que estão conseguindo. Acho que aqui é possível também”, acredita.

O termo que nomeou o painel e norteia as discussões sobre meio ambiente é net-zero. Ele remete à neutralidade de carbono, ou seja, um equilíbrio entre a quantidade de dióxido de carbono emitido e a quantidade removida da atmosfera. Para atingir esse nível o mais rápido possível, cidades como Nottingham e Brighton anteciparam para 2028 e 2030 o prazo para o cumprimento dos objetivos. 

O diretor de negócios e investimentos do Consulado Britânico, Martin Whalley, relata que Nottingham estimulou a adoção pelo transporte elétrico e impulsionou a instalação de estações de recarregamento. Brighton seguiu o mesmo caminho com veículos leves e equipamentos de energia limpa. “O Reino Unido tem muita expertise, mas o Brasil também tem, e temos que estar abertos”, disse. Em entrevista à rádio Gaúcha nesta semana, o prefeito Sebastião Melo (MDB), mencionou a necessidade de atualizar a frota da cidade para ônibus elétricos, mas sugeriu que o alto custo dos veículos seria um impeditivo.

No painel anterior, os palestrantes chamaram a atenção dos empreendedores que estavam na plateia para o mercado de carbono. Luis Felipe Adaime, CEO da Moss, climatech especializada na área, destacou que o Brasil tem bancos de dados, como o do MapBiomas, que são inveja no mundo. Metade da capacidade de explorar este mercado, segundo ele, está nas florestas brasileiras. “O Brasil é a Arábia Saudita do mercado de crédito de carbono”, comparou.

O problema está na ausência de tecnologias que automatizem processos defasados. Segundo Adaime, os pilares desses sistemas já estão fincados, mas é preciso avançar. “Estamos queimando 1% da Amazônia por ano. Estamos queimando dinheiro”, afirmou. “Até porque, se fizer isso (queimar a floresta), o dinheiro não vai servir para nada”, completou o empresário Fersen Lambranho, ex-CEO das Lojas Americanas e atual presidente do conselho administrativo da GP Investments e da G2D Investments.

Problemas de acesso

O primeiro dia da segunda edição do South Summit repetiu um problema da sua estreia na capital gaúcha: a dificuldade de acesso. Além do congestionamento na Avenida Mauá e demais ruas de acesso, houve complicações na entrada, inclusive para veículos parceiros. 

Também criticada na edição passada, a falta de acessibilidade pelo calçamento com paralelepípedos (que não podem ser alterados em função de tombamento pelo patrimônio histórico) foi resolvida com carrinhos de caddie, aqueles do auxiliar do golfista. Já a lentidão do sistema 3, 4 ou 5G com uma multidão de pessoas conectadas foi compensada com fortes redes de internet Wi-Fi.

Gostou desta reportagem? Garanta que outros assuntos importantes para o interesse público da nossa cidade sejam abordados: apoie-nos financeiramente!

O que nos permite produzir reportagens investigativas e de denúncia, cumprindo nosso papel de fiscalizar o poder, é a nossa independência editorial.

Essa independência só existe porque somos financiados majoritariamente por leitoras e leitores que nos apoiam financeiramente.

Quem nos apoia também recebe todo o nosso conteúdo exclusivo: a versão completa da Matinal News, de segunda a sexta, e as newsletters do Juremir Machado, às terças, do Roger Lerina, às quintas, e da revista Parêntese, aos sábados.

Apoie-nos! O investimento equivale ao valor de dois cafés por mês.
Se você já nos apoia, agradecemos por fazer parte da rede Matinal! e tenha acesso a todo o nosso conteúdo.

Compartilhe esta reportagem em suas redes sociais!
Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email
Se você já nos apoia, agradecemos por fazer parte da rede Matinal! e tenha acesso a todo o nosso conteúdo.

Compartilhe esta reportagem em suas redes sociais!
Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email

Gostou desta reportagem? Ela é possível graças a sua assinatura.

O dinheiro investido por nossos assinantes premium é o que garante que possamos fazer um jornalismo independente de qualidade e relevância para a sociedade e para a democracia. Você pode contribuir ainda mais com um apoio extra ou compartilhando este conteúdo nas suas redes sociais.
Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email

Se você já é assinante, obrigada por estar conosco no Grupo Matinal Jornalismo! Faça login e tenha acesso a todos os nossos conteúdos.

Compartilhe esta reportagem em suas redes sociais!

Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email
RELACIONADAS
;

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.