Becos, ontem e hoje
Quando se diz que alguém entrou num beco sem saída, imediatamente se pensa numa pessoa envolvida em uma situação difícil. Ou então quando se imagina a criminalidade urbana, também não raro se pensa em algum bandido que saiu de um beco para roubar ou matar. Como se pode ver, o beco já vem acompanhado de muitas conotações negativas no imaginário urbano. Mas por que é assim?
Primeiramente, um rápido exame da origem da palavra em si pode trazer algumas pistas: beco tem provavelmente origem latina na palavra vieco, segundo o Houaiss, um diminutivo da palavra via (rua, estrada, caminho). Ora, tem-se aí uma ideia de hierarquia na malha urbana: existem as ruas e os becos, muitas vezes sem saída. As primeiras com ares de protagonistas nos mapas, plantas e imaginário urbano, oficiais e bem apresentadas, levando nomes de vultos ilustres da história: Comendador Fulano, Doutor Beltrano, Coronel Sicrano. Os segundos, coadjuvantes que muitas vezes se prefere deixar atrás da cortina da paisagem urbana, e que seguidamente levam nomes bem menos imponentes: Beco do Mijo, Beco do Oitavo, Beco do Poço, Beco Curral das Éguas. Justiça seja feita: em favor dos becos, há que se dizer que, ao menos nos seus nomes, eles tradicionalmente guardam relação mais direta com as práticas e sociabilidades populares de que são palco.
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