Um gaúcho entre Montevidéu e Brasília
Porto-alegrense da classe de 1958, vivi o ano de 1980 em Montevideo e desde 2001 sou um daqueles que “não se adaptaram” em Brasília. Não me sinto em casa aqui como me sinto na capital gaúcha ou na uruguaia. Estranho? Nem tanto.
Trancar a vida de estudante da UFRGS para estudar (só) música em Montevideo teve ganhos e perdas, como em qualquer escolha. Mas em nenhum momento me senti um peixe fora d’água. Como se diz hoje: a acolhida foi ótima para um jovem cabeludo com roupas coloridas, vindo do Bom Fim (via Las Piedras), para conhecer melhor o que seria a vida de violonista e, de lambuja, a rica vida cultural da cidade. Vivi as mesmas circunstâncias que viviam os amigos uruguaios, até mesmo mais facilitadas pela evocação de liberdade que a juventude brasileira trazia na época a uma cidade tão gris. Senti na prática as proximidades culturais com os vizinhos, o fato de compartilharmos a “cultura do sul do mundo” ou seja lá o nome que tenha esse sentimento regional que segue cultivado.
Entre 1980 e 2001 o mundo girou várias vezes em Porto Alegre. Ingressei por concurso em uma carreira federal de políticas públicas, o que exigiu migrar para outra capital, desta vez a do meu país. Achava que seria um caminho “natural” da vida, depois de alguns anos de experiência em governos municipal e estadual. Não imaginava que entraria para o grupo dos que “não se adaptaram” a Brasília. Sim, existe esta categoria dos que começam a declarar que se sentem estranhos (estrangeiros) e que gostariam de sair daqui, mesmo com o “futuro garantido” do concurso público. Bem, se há os não adaptados é porque há os que se sentem muito bem. Mas ao que mesmo uns se adaptam ou outros não? E mais difícil ainda: por que a “NovaCap” produziria mal-estar em alguns?
[Continua...]