Victoria Ocampo, feminista
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Alguns capítulos atrás, prometi contar o que Paul Groussac disse a Victoria Ocampo quando ela lhe mostrou seu ensaio sobre Dante. O episódio ilustra bem a hostilidade do mundo letrado à presença feminina. Groussac, francês radicado na Argentina desde os anos 1860, foi diretor da Biblioteca Nacional de 1885 a 1929, ano de sua morte. É um daqueles europeus aclimatados, como ironizou Ricardo Piglia, em Respiração artificial: intelectuais que em seus países de origem eram peças secundárias e que uma vez instalados na Argentina viram “árbitros da vida cultural”[1]. Victoria estava escrevendo De Francesca a Beatrice – o ensaio que publicaria em 1924 e cuja segunda edição sairia na Revista de Occidente, de Ortega y Gasset, em 1928 – e resolve submeter o texto à avaliação do ilustre diretor. Ele diz que muito já se escreveu sobre a Divina comédia e que se ela não tivesse um enfoque original ou dado inédito, era melhor deixar o texto em paz. Também a acusou de pédantesque e aconselhou que escrevesse sobre um tema mais ao seu alcance, mais pessoal.