Resenha

Uma resenha, que tal?

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Uma resenha, que tal?
Nas noites de 3 a 5 de novembro, Chico Buarque, acompanhado de Mônica Salmaso e instrumentistas, subiu ao palco do auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre, para apresentar ao público o seu show mais recente, Que tal um samba?. Alguns dias depois de divulgar, em junho deste ano, a primeira canção inédita desde Caravanas, de 2017, o músico também anunciou seu retorno aos palcos com a turnê homônima ao single. O repertório, como veremos a seguir, revela, de forma complexa, o contexto em que foi concebido, sendo possível relacioná-lo com a expectativa de, enfim, o país sair de um período sombrio, marcado por um governo cuja ideologia bárbara e tacanha propaga o desmonte de tudo que se relaciona com o nosso bem-estar e a nossa cultura, mas sem deixar de lado as tensões que seguem com a gente. As apresentações na capital gaúcha, menos de uma semana após o segundo turno das eleições presidenciais, deram ainda mais força para o setlist e permitiram a continuidade nos palcos: “Acho que a gente nem estaria tocando aqui hoje se o resultado fosse outro”, disse o músico em uma de suas raras pausas entre uma canção e outra. Chico, como o grande cancionista que é, pensa o show como uma forma estética em si mesma: mais do que uma seleção de músicas que o público gostaria de ouvir naquele momento, o show se apresenta como algo novo criado a partir do rearranjo de canções pré-existentes, além de outros elementos (visuais, por exemplo). Em certa medida, poderíamos aproximar essa forma do show àquela do cinema, entendendo-a como uma espécie de montagem na qual as canções, como as cenas, em conjunto e ordenadas da forma como estão, criam sentidos novos ou, no mínimo, modulam sentidos existentes. Tendo isso em mente, o dado óbvio de que a turnê busca dialogar com nosso contexto político atual ganha novos contornos, já que, para além de simplesmente apontar esse diálogo, podemos nos perguntar como ele se dá. Nesse sentido, é fundamental notar o quanto a escolha das faixas se organiza a partir de certo tom esperançoso, ainda que contido, e de reconstrução proposto pela nova canção. Com o “Todos juntos somos fortes / Somos flecha e somos arco / Todos nós no mesmo barco / Não há nada pra temer” da faixa “Todos juntos”, diretamente do disco Os Saltimbancos, de 1977, o sentimento do “apesar de tudo, vencemos” logo se coloca. Três canções à frente e ouvimos também “Um marinheiro me contou / Que a boa brisa lhe soprou / Que vem aí bom tempo”, com a faixa que deu a Chico o segundo lugar na I Bienal do Samba da TV Record, em 1968, e que aparece no disco de Salmaso Noites de Gala, Samba na Rua, de 2007. Se podemos falar em um tom esperançoso, contudo, certamente é difícil falar em euforia, e, inclusive, parece haver uma tentativa consciente de evitá-la no espetáculo através do distanciamento do hit — “Apesar de você” tem sido cantada em referência […]

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