Fundação Iberê exibe livros de artista da Coleção Itaú Cultural
Até 31 de março, a Fundação Iberê apresenta a exposição Livros de Artista na Coleção Itaú Cultural, oitava itinerância de um projeto que já circulou por outras sete cidades do país. Mais de 40 obras integram a mostra, dividida nos eixos Rasuras, Paisagens, Álbuns de Gravura, Uma Escrita em Branco e Livros-objetos, que se intercalam entre publicações dispostas em vitrines e nas paredes do museu.
Curador da exposição, Felipe Scovino explica que o recorte da coleção exibido em Porto Alegre busca “pensar a aparição da palavra, no sentido metafórico ou real, além da palavra, a partir de outras formas”, incluindo o diálogo das publicações com linguagens artísticas como escultura, música e pintura.
“Temos uma feira histórica no Brasil, a Feira Tijuana, que perdura, e editoras que se dedicam cada vez mais à produção de livros de artistas, além de artistas que se dedicam não só a produção autônoma, mas também de outros artistas”, analisa Scovino ao comentar o momento atual da concepção de livros de artista no Brasil.
A mostra tem entre seus destaques três livros produzidos em parceria pelo poeta Augusto de Campos e o artista visual e escritor Julio Plaza (1937-2003), pioneiros dos chamados livros-objetos no Brasil: Objetos (1969), Muda Luz (1970) e Caixa Preta (1975). “Nesses livros, a poesia concreta ganha tridimensionalidade, retratando o desejo desses poetas em estabelecer contatos com a escultura e a pintura”, observou Scovino durante a visita da reportagem à exposição. Caixa Preta inclui ainda um vinil de poemas de Campos musicados por Caetano Veloso.
No site do projeto, o curador ressalta: “Era o momento em que a palavra saltava da página em direção ao espaço, assim como, guardadas as suas especificidades, simultaneamente as experiências concretas, neoconcretas e cinéticas exploravam, nas artes visuais, um campo ampliado para a pintura e a escultura”.
As obras históricas da mostra incluem as Gravuras Gaúchas (1952), de artistas atuantes nos clubes de gravura de Bagé e Porto Alegre, como Danúbio Gonçalves (1925-2019), Carlos Scliar (1920-2001) e Vasco Prado (1914-1998).
Já nas obras de Antonio Henrique Amaral (1935-2015) e Raimundo de Oliveira (1930- 1966), a literatura de cordel e a xilogravura ganham espaço. Nas gravuras do álbum O Meu e o Seu (1967), de Amaral, essas linguagens dialogam com a estética da pop art.
Nos livros de Waltercio Caldas, o curador ressalta o interesse de criar formas a partir do vazio, uma das principais características das esculturas do artista carioca. “São trabalhos formados por intervalos, escavações, penetrações, faltas e falhas.”
As gravuras Anamorfas (1980), de Regina Silveira, estão exibidas em uma das paredes da Fundação Iberê. “Esse álbum integra a dissertação de mestrado defendida por Regina na USP [Universidade de São Paulo]. Ela esgarça elementos relacionados à opressão, vigilância e punição e os torna um tanto cômicos”, descreve o curador da mostra.
A exposição reúne ainda, entre outros trabalhos, livros dos anos 2010 que abordam questões históricas que incidem no presente, como a escravidão, em Escravos de Jó (2016), de Aline Motta, e o contexto político recente do país, como Dossiê Cruzeiro do Sul (2017), de Lais Myrrha.
Todos os livros presentes na mostra pertencem ao acervo do Banco Itaú, mantido e gerido pelo Itaú Cultural. As obras integram uma coleção iniciada na década de 1960 e que atualmente reúne mais de 15 mil itens entre pinturas, gravuras, esculturas, fotografias, filmes, vídeos, instalações, edições raras de obras literárias, moedas, medalhas e outras peças.
SERVIÇO
Livros de Artista na Coleção Itaú Cultural
Fundação Iberê
De 3 de fevereiro a 31 de março de 2024
Visitação: de quinta-feira a domingo, das 14h às 18h
Às quintas, a entrada é gratuita; nos demais dias, os ingressos custam entre R$10 e R$30
Ingressos antecipados na Sympla
Endereço: avenida Padre Cacique, 2000 – Cristal – Porto Alegre
sábado, 03 a 31 de março de 2024