“Pequena Alemanha” lança olhar para identidade cultural de comunidades de ascendência alemã no RS
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No ano em que se completam 200 anos da chegada dos primeiros imigrantes alemães ao Rio Grande do Sul, a artista Bruna Engel exibe fotografias do ensaio Pequena Alemanha no Goethe-Institut. Com curadoria de Letícia Lampert, a mostra propõe um olhar crítico que escapa da idealização e folclorização das comunidades de ascendência alemã no estado.
A série nasceu em uma residência artística do FestFoto POA, em 2019, que resultou em quatro meses de trabalho de campo em cidades como Montenegro, Nova Petrópolis, Salvador do Sul e São Vendelino. Ao longo da imersão, conta Engel, “acabei entendendo um pouco melhor a forma como essas comunidades se entendem e percebi o quanto a ideologia pangermânica está ainda mais forte e presente na rotina dessas pessoas do que eu imaginava”.
Na mesma linha, Lampert indaga: “o pangermanismo de então [de quando chegaram os primeiros alemães ao RS] já não encontra eco na Alemanha dos dias de hoje. Mas e aqui? Até onde vai a celebração carinhosa da cultura dos antepassados, e onde começa a expressão de uma germanidade ufanista e anacrônica, perpetuada, arrisco dizer, mais aqui do que lá?”.
“Não são respostas o que encontraremos no trabalho de Bruna Engel, mas, como é próprio da arte, um convite à reflexão. Com ironia e bom humor, a artista nos conduz por este território tão peculiar, uma Pequena Alemanha fora do tempo e do espaço, carregada de nostalgia e contradições”, completa a curadora.
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Engenheira de formação, com estudos em fotografia iniciados em 2014, Engel é natural de Montenegro, onde vive até hoje: “De criança, eu já tinha relação com toda essa realidade, com algum estranhamento, ainda mais na adolescência. Era muito confuso pra mim, não me sentia parte”.
A proposta da exposição, afirma a artista, é iniciar uma conversa mais complexa sobre os processos de ocupação do território brasileiro, incluindo as estratégias de branqueamento da população operadas pelo Estado: “Vamos conversar sobre esses 200 anos e como foi a formação dessa sociedade, sem inocentar ou vitimizar ninguém, porque a história não é tão linda”.
Pequena Alemanha reúne retratos de diferentes gerações e imagens do cotidiano de localidades fortemente apegadas às suas origens. Com fotografias obtidas a partir de 2019, o projeto contou com patrocínio da Funarte para a publicação de um livro, em 2020, com texto da curadora e jornalista Luísa Kiefer, coeditora da Parêntese.
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“Os planos abertos e frontais, a luz difusa, a objetividade da imagem e a construção de uma tipologia de casas enxaimel, são alusões claras ao tipo de fotografia consagrada e propagada por Bernd e Hilla Becher, a partir dos anos 1960”, observa Kiefer, comparando as fotografias de Engel às coleções de imagens de estruturas industriais do casal de artistas alemães.
“A subjetividade que permeia as imagens – e que só é possível pois Bruna nasceu e cresceu em uma destas comunidades, o que lhe confere um olhar de dentro –, desviam do padrão rigoroso dos Becher, aportando algo mais caloroso, mais impreciso, mais vivo, mais próprio da cultura brasileira”, pondera Kiefer.
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Exposição “Pequena Alemanha”, de Bruna Engel
Onde: Goethe-Institut Porto Alegre (av. 24 de Outubro, 112)
Visitação: até 31 de julho
Horário: segunda a sexta-feira, 9h às 19h; sábados, 9h às 13h
Entrada franca