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“Os Rejeitados” encontra a empatia possível no desajuste

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“Os Rejeitados” encontra a empatia possível no desajuste Universal/Divulgação

Vencedor no domingo passado (7/1) de dois prêmios Globo de Ouro de interpretação, Os Rejeitados (2023) entra em cartaz nos cinemas brasileiros esticando por aqui o clima de final de ano contando uma história ambientada durante as férias de Natal de 1970. Nessa comédia agridoce dirigida por Alexander Payne, o sempre ótimo ator Paul Giamatti interpreta um professor azedo obrigado a tomar conta de um aluno problemático durante o recesso escolar.

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Em Os Rejeitados, Giamatti vive Paul Hunham, competente mas estigmatizado professor de história antiga da escola de elite Barton, rejeitado tanto pelos alunos quanto pelos colegas docentes por conta de sua rigidez inflexível e seus métodos antiquados. Sem família e sem ter para onde ir durante as férias de Natal, o mestre é designado pelo diretor a permanecer no internato para supervisionar um grupo de alunos que não podem voltar para casa.

Passados poucos dias, apenas um estudante permanece na escola: um complicado e inquieto jovem de 18 anos chamado Angus Tully (Dominic Sessa), aluno estudioso, mas cujo mau comportamento sempre o coloca em encrencas. Junta-se a ambos nessa convivência forçada a cozinheira-chefe da escola Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph), que amargo o luto pela morte recente do filho na Guerra do Vietnã.

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Ruminando frustrações pessoais e traumas do passado, esse trio improvável vai ser obrigado a encarar junto duas semanas de muita neve na Nova Inglaterra, quando uma sucessão de episódios tão dramáticos quanto cômicos acabará por aproximá-los em seu sentimento comum de desajuste.

Nesse novo trabalho, o diretor Alexander Payne escancara o fetiche nostálgico pelo cinema dos anos 1970 e 1980, predileção que já dera pistas em filmes como Sideways: Entre Umas e Outras (2004) e Os Descendentes (2011). Em Os Rejeitados, não apenas apenas a direção de arte, o figurino e a trilha sonora evocam à perfeição o clima da virada das décadas de 1960 para 1970: a fotografia de cores esmaecidas e a utilização de recursos como o zoom vertiginoso remetem à estética dos filmes produzidos na época tanto para a tela grande quanto para a TV. Essa brincadeira retrô inclui a exibição no início do filme de créditos e certificados técnicos com design e logotipos setentistas, além de características de películas em celuloide, como granulação e sujeira na imagem, adicionadas na pós-produção – um tipo de homenagem ao passado comum também nas produções de cineastas como Quentin Tarantino e Robert Rodriguez.

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Os Rejeitados é inspirado em Merlusse (1935), filme escrito e dirigido pelo romancista e cineasta francês Marcel Pagnol. Na versão modernizada da história dirigida por Payne, temas como discriminação de classe e raça, melancolia e ressentimento, privilégio e exclusão são abordados com sensibilidade, leveza e fluidez, sopesando drama e humor com fino equilíbrio.

Contribuem decisivamente com a direção correta e o roteiro escorreito de David Hemingson o notável trio central de intérpretes. Como na primeira colaboração com Payne, em Sideways, Paul Giamatti volta a encarnar um personagem depressivo e neurótico cheio de nuances psicológicos e emocionais – papel que acaba de lhe render o Globo de Ouro de melhor ator de comédia ou musical. Sua atuação esmerada e detalhista como o complexo professor Hunham encontra eco dramático no trabalho de Da’Vine Joy Randolph – Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante – e, especialmente, do estreante Dominic Sessa, ajudando a materializar na tela a curiosa relação ora irritante, ora amável entre mestre e pupilo.

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Os Rejeitados: * * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Os Rejeitados:

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