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“A Cor Púrpura” vence o machismo, o racismo e o tempo

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“A Cor Púrpura” vence o machismo, o racismo e o tempo Warner/Divulgação

Depois de conquistar o público no cinema com a adaptação dirigida em 1985 por Steven Spielberg e ganhar os palcos em versão cantada e dançada a partir de 2005, o best-seller da escritora estadunidense Alice Walker está de volta. O filme musical A Cor Púrpura (2023) conta de novo a comovente história de superação de uma mulher negra que enfrenta no Sul dos Estados Unidos de princípios do século 20 o abuso, a violência doméstica, o machismo e o preconceito racial graças à resiliência e à sororidade.

A Cor Púrpura começa em 1909, quando as jovens irmãs Celie e Nettie são separadas depois que o pai abusivo delas obriga a primeira menina a se casar com Mister (Colman Domingo), um bruto fazendeiro local. Os anos passam enquanto Celie – interpretada na fase adulta pela atriz Fantasia Barrino – leva uma vida de submissão e constante humilhação, cuidando da casa e dos filhos do marido na expectativa de um dia receber notícias da irmã.

A chegada à cidadezinha sulista de Shaug Avery (Taraji P. Henson), sedutora cantora de jazz de comportamento liberal pela qual Mister é apaixonado, apresenta para Celie um mundo mais solar e amoroso. Graças ao exemplo de Shaug e também o da rebelde Sofia (Danielle Brooks), companheira do filho de seu marido que confronta destemidamente o machismo e o racismo, Celie vai aos poucos tomando consciência de sua condição e construindo um caminho rumo à emancipação.

Warner/Divulgação

A Cor Púrpura empolga com as sequências musicais conduzidas com inspiração pelo diretor ganês Blitz Bazawule, explorando tanto a tradição dos musicais de Hollywood e da Broadway quanto a linguagem contemporânea dos videoclipes – Bazawule é o responsável também pelas imagens do álbum visual Black Is King: Um Filme de Beyoncé (2020). Os ótimos números musicais misturando gospel, blues, r&B e pop fluem naturalmente no filme, alternando-se sem sobressaltos com os trechos dramáticos. A trilha sonora do filme recupera o hit Miss Celie’s Blues (Sister), canção originalmente da produção de 1985 indicada ao Oscar, mas que foi mantida fora da montagem da Broadway.

A performance do ótimo elenco representa o melhor do showbiz estadunidense, com intérpretes que atuam, cantam e dançam com a mesma desenvoltura – caso, por exemplo, de Danielle Brooks, atriz que participou da versão musical de 2015 de A Cor Púrpura e indicada neste ano ao Oscar de coadjuvante pelo mesmo papel vivido por Oprah Winfrey no filme de 1985.

Já no cast masculino, o destaque vai para Colman Domingo com sua excepcional encarnação do cruel vilão Mister – o ator está também na disputa do Oscar em sua categoria pela sua igualmente excelente atuação como protagonista de Rustin (2023), cinebiografia do líder da luta pelos direitos civis Bayard Rustin disponível no catálogo da plataforma Netflix.

Warner/Divulgação

A grande estrela de A Cor Púrpura, entretanto, é mesmo sua protagonista: repetindo o papel que já defendera no musical da Broadway, a atriz e cantora brilha como a sofredora Celie, que encontra a redenção depois de passar por um calvário de provações imposto pelos homens que a oprimem. Curiosamente, Whoopi Goldberg, atriz que interpretou a personagem no filme de 1985, faz um pequeno papel na nova produção como uma parteira que ajuda a jovem Celie a dar à luz.

Visualmente exuberante, o musical esmera-se na direção de arte, com cenários e figurinos apropriadamente evocativos da época e do lugar onde a trama se desenrola, e na bela fotografia – requintes de produção que lembram a refilmagem de Amor, Sublime Amor dirigida em 2021 por Steven Spielberg, um dos produtores do novo A Cor Púrpura.

Em comparação com o drama filmado há quase 40 anos por Spielberg, o musical ameniza um pouco a chocante violência e tragédia do original, ressaltando ao final aspectos positivos do enredo como a solidariedade feminina e a reconciliação espiritual – as imagens luminosas do desfecho de A Cor Púrpura, inclusive, chegam a remeter ao ambiente etéreo de produções como Nosso Lar. Entretanto, isso não diminui a força de uma história cuja humanidade vem comovendo gerações desde que Alice Walker publicou seu romance em 1982.

Warner/Divulgação

A Cor Púrpura: * * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de A Cor Púrpura:

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